quinta-feira, 6 de julho de 2017

Ato simbólico, no Colóquio Transformações, perenidades, inovações ESEC – 30 anos de Ensino de línguas/Formação de professores de línguas

Escolhi a ESEC da Universidade do Algarve para um ato simbólico da carreira do Ensino Superior: a «última aula». Estejam descansados! Figo continua a marcar golos, mas este é um momento simbólico na nossa cultura (apesar de se estar a perder)!

Em primeiro lugar, por causa do título: 30 anos

Passei cerca  de 30 anos numa Escola Superior de Educação a formar professores. Assisti ( e participei) em grande parte das transformações e inovações. Constato algumas perenidades e preocupam-me  alguns retrocessos.

Há cerca de 30 anos, colaborei, na Universidadedo Algarve, no primeiro mestrado de  educação (didática das línguas) das ESE. A ESE pertencia a uma Universidade e pôde ter mestrados antes das outras. Já depois de me aposentar, colaborei no Mestrado da REDE  7 (em Castelo Branco)  que integrava também a ESE(C). Nos dois casos lecionei a cadeira (e UC) de Didática das Línguas Culturas em colaboração com uma professora desta instituição que muito admiro, a Teresa de Sousa. A minha primeira orientação de mestrado foi feita nesta instituição. Participei em júris de mestrado e progressão em carreiras. Participei em colóquios e congressos e fiz amigos.
Por sugestão da Presidente da APEF, na altura da minha aposentação,  Ana Clara Santos, a ESEC organizou um Colóquio em minha homenagem e colaborou na publicação das Atas (também a UIIPS do IPS de Santarém). Que melhor homenagem pode  ser prestada a  um investigador que um colóquio com investigadores para refletir sobre a sua disciplina? E com alunos?

Em segundo lugar, ao convidar-me para -  depois do Professor Varela de Freitas, fundador da ESE (C) e do IPS do Algarve que traçou a história das ESE ( parte da minha história  também)  - falar sobre inovações, transformações, perenidades no ensino das línguas e da formação de professores, a ESEC estava a incitar-me, sem o saber, para que eu tomasse esta decisão.  

Na presença de colegas que foram adjuvantes na minha história , de responsáveis da ESE (Obrigada António Lopes, Artur Gonçalves, Catherine Simonot, Isabel Orega, Teresa Sousa e todos os outros colegas), de estudantes, de colegas do PNEP, de professores do ensino básico e secundário. Até a minha querida colega Carmen Guillén veio acompanhada por um estudante da Universidade onde dei aulas (Valladolid)!

E escolhi muito bem porque se tratou de um Colóquio onde foi traçada a história da ESE - ESEC , onde  colegas apresentaram e justificaram o lugar de cursos e unidades curriculares em consonância com a missão das ESE. Onde foram apresentadas investigações nacionais e internacionais. E destaco as comunicações-testemunhos da qualidade da formação prestada na ESEC feitas por ex-estudantes. E não foram convocados para  comparecer a reuniões de avaliação da instituição ou de cursos! Foi um momento que deixa a instituição de parabéns pela articulação entre a conceptualização e a intervenção. Ou melhor dizendo, tratou-se também de  um Colóquio em Didática das Línguas e Culturas nas diferentes componentes desta disciplina, de acordo com o Professor Robert Galisson . Daí  a justificação para a  apresentação do número 4 da  Revista Synergies  Portugal,   numero de homenagem a este Professor-Investigador_Homem de cultura e Amigo. O número 4 foi apresentado por mim enquanto ex-diretora da revista em Portugal e co-coordenadora do número e pela nova diretora da publicação portuguesa, Ana Clara Santos. Esta revista é uma das 32 Synergies publicada pelo GERFLINT (Groupe de recherche sur le français langue internationale), sendo o diretor de todas as publicações Jacques Cortès.

E por último, tinha razão para concluir a minha aula  com a  entrega simbólica do quadro «naïf» de Antígona (Clara Ferrão) intitulado «Mestiçagem de Culturas», título que retoma citação de Michel Serres a propósito do cidadão do futuro «le tiers instruit» que deve ser um mestiço de culturas. Para além das ciências e as tecnologias terem estado associadas às apresentações sobre literatura que também convocaram pintores, um concerto «fechou» o Colóquio na ESEC. Depois foi o jantar... e a conversa entre amigos!   E, agora, as férias...
Muito obrigada ESEC!
    



Tempo, espaço e comunicação multimodal em cursos de formação de professores

Transformações, perenidades, inovações
 ESEC – 30 anos de Ensino de línguas/Formação de professores de línguas
Resumo ou tópicos organizados em férias no Algarve.  O  texto será publicado em Atas.

Tempo, espaço e comunicação multimodal  em cursos de formação de professores


Objetivo:  Identificar transformações, inovações, perenidades e até retrocessos na aula de língua e na formação de professores (Nestes tópicos só desenvolvo o plano da formação).
Contextualização e problematização:
Tendo a ESE do Algarve adotado a designação Escola Superior de Educação e Comunicação  da Universidade do Algarve importava compreender o lugar da comunicação nas práticas de ontem e hoje e na formação de professores de línguas. 

Com Bolonha os estudantes de todos os ciclos devem «ser capazes de comunicar as suas conclusões, e os conhecimentos e raciocínios a elas subjacentes, quer a especialistas, quer a não especialistas, de uma forma clara e sem ambiguidades».
Os professores devem ainda ser capazes de comunicar com crianças.

Podemos então formular a questão seguinte:
·         Nos planos de estudos de cursos de professores  e nas fichas curriculares
  • ·         Quais as metodologias adotadas para desenvolver as competências referidas?
  • ·         A videoformação aparece?
  • ·         Aparecem simulações globais ou simulações de sequências?
  • ·         Quais os instrumentos de observação das interações?
  • ·         Como se vê como o professor comunica?
  • ·         Quem ensina um professor a comunicar? 


Ora, nos planos de estudos de cursos de professores  (disponíveis on line) de instituições do ensino superior, quase não se vêem marcas desta competência declinada quer em termos de UC específica, quer na definição de  objectivos de UC, quer nos conteúdos, quer nas bibliografias.
A ESEC  é, de certo modo, uma exceção, formulando  o seguinte objectivo:
Mestrado em ensino de português  e inglês no segundo ciclo
«O desenvolvimento da capacidade de exposição oral e escrita em Português e em Inglês, inclusive dentro do registo académico». https://esec.ualg.pt/pt/curso/1483


Recuando no Tempo…
Como dizia o fundador da ESEC, Professor Cândido de Freitas, na conferência que precedeu esta e traçou o início da ESEC,  e a minha experiência numa ESE o confirmou, as ESE foram dotadas com espaços e recursos para a videoformação, para a observação de aulas, para a produção de vídeos.
Que aconteceu a estes espaços? E sobretudo que aconteceu às práticas de comunicação  que  neles decorriam (porque até nem haveria necessidade de espaço específico)?
Adotando o formato narrativo (no fim expliquei as razões), nos anos  80 do século passado,  mostrei imagens que  documentam um ciclo de formação de uma cadeira, como se dizia na época, que eu lecionava: Nessas imagens, vê-se  uma futura professora que contava uma história, seguidamente  os estudantes  viam registos vídeo de professores ou «comunicadores profissionais», como José Hermano Saraiva, a contar uma história,  observavam, com base num enquadramento teórico sobre a comunicação verbal e não verbal, vários registos em vídeo e analisavam essas «amostras» da comunicação, no plano das interacções verbais e não verbais. No final, a mesma estudante voltava a contar história e via-se a evolução. O mesmo  ciclo decorria  em relação a outros papéis que os professores desempenham sempre (explicadores, animadores, avaliadores…).
  
E hoje? Parece que  a comunicação desapareceu  em grande parte da formação  de futuros professores. Caso contrário, não veríamos nas defesas de provas e nas apresentações os vários casos que reuni num dispositivo caricatural:


Os alunos recorrem a  templates ou imagens de tipo ilustrativo ou metáforas  inadequadas
Apresentação de texto memorizado com  ausência de gestos de mise en corps  necessários à  mise en concept e mise en mots (dimensão neurológica da multimodalidade),
Ausência de conetores verbais e gestuais
Olhar  centrado no computador ou ecrã;
Projeção em modo de trabalho.
Leem texto;
Uso indiferenciado de caracteres,  pontuação…
Apagam  luzes
E os professores mandam apresentar   em
power point

Muitos estudantes não terão desenvolvido a competência definida já na alínea e) do Decreto –Lei 74/2006.
O que não é de estranhar porque  não aprenderam a comunicar.


No entanto há várias maneiras de aprender a comunicar e a videoformação é uma delas. A vídeoformação não morreu, como documenta a bibliografia apresentada em outro post, nomeadamente, nas referências apresentadas  no âmbito da  Cátedra Unesco para a formação de Professores no século XXI.



Macron aprendeu a comunicar para reagir a Trump. Rui Mergulhão, nos tribunais, procura marcas de emoções nos arguidos, nas empregas, sucedem-se cursos de comunicação, recorrendo até à PNL - Programação Neurolinguística (nos anos 80 frequentei um).
E que dizem as neurociências?
Que se vêem no cérebro marcas idênticas de quem pronuncia e de quem recebe discursos em formato narrativo (uma das razões para o formato narrativo adotado), que se vêem no cérebro marcas   dos gestos das mãos… daí eu ter precisado de mãos livres para improvisar ( apesar da preparação ) aula e não estar condicionada por gestos técnicos. Evidentemente em formato blogue… simplifico e caricaturo estudos!
Os nossos neurónios comunicam em espelho com os neurónios dos outros. Não são só as posturas de convergência interativa, as inclinações laterais da cabeça, os gestos e verbalizações de aprovação, os sorrisos… Os gestos antecipam a verbalização, convocam a memória e provocam fenómenos de alinhamento neuronal, cognitivo , relacional e empático. A comunicação é multimodal. 
Mas, como  poderemos nós  professores e investigadores ver… sem  recorrer a ressonâncias magnéticas (que aliás me levantam problemas, nestas situações)?

  • ·         Observar o que acontecia quando eu estava a contar esta «história» ou o que aconteceu, depois, quando alguns colegas estavam a contar, a explicar e a argumentar (alguns escondidos atrás de ramo de flores ou de ecrã de computador, outros de pé, com mãos e sem mãos  no computador).  

  • ·         Utilizar alguns dispositivos de eye tracking que se estão a desactualizar em algumas instituições sem que sejam utilizados em educação?
  •  
  • Para observar a comunicação que hoje é muito diferente em relação com o espaço, o tempo e as tecnologias.

 E, por isso, propus a observação de uma metáfora icónica do axioma da comunicação de Paul Watzlawick «não  podemos não comunicar», no qual são visíveis marcas que reenviam para o olhar, os gestos, as mão… As costas comunicam, as pernas de Sharon Stone comunicam, os espaços reais comunicam, o tempo comunica, as diferentes culturas religiosas, artísticas, literárias, científicas comunicam.  A tela revela as porosidades entre os diferentes planos. E a nossa memória convoca, em palimpsesto, «imagens», palavras que compõem os nossos discursos:


A «mestiçagem de culturas» de que falava Michel Serres, em «Le tiers instruit», para caracterizar o homem do futuro.
O tempo passou e…  esse futuro tornou-se presente.
E, nesse presente, entreguei simbolicamente à ESEC uma produção «mestiça» de Antígona, metáfora icónica da definição do homem do futuro que a ESEC terá de formar, em consonância com a missão do ensino superior.






«Intertextualidades»: Exposição de pintura de Antígona/Clara Ferrão

Está patente, até 6 de janeiro de 2024, no Centro Cultural Penedo da Saudade , do Instituto Politécnico de Coimbra, uma exposição de pintura...