quarta-feira, 14 de maio de 2014

Homenagem a um Professor

Texto que  deu origem a apresentação oral  na cerimónia de inauguração do busto de Homero Pimentel, em Arganil, há alguns anos e que torno público nas redes,  na comemoração do centenário do seu nascimento. 

Homero Pimentel: um professor com sucesso


Ao escrever este artigo hesitei no título… Podê-lo-ia ter intitulado: «Credo meninos credo! Tanta ignorância!» ou «Colégio de Arganil: uma escola privada democrática antes da democratização da escola pública» ou ainda: «De como um professor transforma alunos condenados ao insucesso em alunos de sucesso».

            São estes os tópicos que abordarei na minha singela homenagem ao Dr. Homero. Procurarei abordá-los não de uma maneira passadista, mas situando-os em relação a alguns temas que são objecto de discussão, quando, hoje, falamos de educação.

 Retomo a exclamação que todos os alunos do Dr. Homero ouviram e certamente não esqueceram: «Credo meninos credo! Tanta ignorância!». Também, agora, ouvimos referências à ignorância dos nossos alunos. Será então de procurar «modelos», procurar «boas práticas» que conseguiram vencer a «ignorância». Homero Pimentel era um professor «mestiço», no sentido que é dado a este termo pelo filósofo francês  Michel Serres: um «mestiço» de cultura humanística, artística e científica. Foi professor de quase tudo: Latim, Grego, História, Filosofia, Francês…Explicador (para todos e gratuitamente) de quase todas as disciplinas.  No Colégio de Arganil fazia-se o que hoje se poderia designar de «estudo acompanhado». Até apanhei reguadas porque tive negativa a Matemática! Mas ensinou-me a aprender Português e ensinou-me a APRENDER Matemática e todas as outras disciplinas. Com ele, desenvolvi «competências de aprendizagem». Com a vasta cultura que possuía, levava-nos a contextualizar conhecimentos, a relacionar, a descobrir «Os Lusíadas». Com que emoção lia o episódio de Inês de Castro ou com que vivacidade e humor explicava a «Ilha dos Amores»! Levou uma geração  de meninos que nunca teria saído das suas terras a Atenas, a  Creta, a Roma, a viajar nos países que ele próprio nunca teve a oportunidade de conhecer. Michel Serres refere que «aprender é viajar»: foi uma viagem que todos nós fizemos. Viagem, no tempo e no espaço dos conhecimentos, antes da «sociedade do conhecimento».
Viagens «à vila» nos dias em que éramos «corridos». «Fujam meninos fujam…» Era a maneira exagerada como manifestava a sua impotência para combater a nossa «ignorância». O carinho e o humor que se seguiam a estes momentos de forte emoção depressa nos faziam esquecer o episódio. Ou, talvez não… «ser corrido» significava «ser crescido» e implicava a partilha de emoções, a solidificação de laços de grupo, a disponibilidade para descobrir os outros. È evidente que estas práticas têm de ser situadas no contexto dos anos 50 e 60. Numa sociedade em que nós os pais consideramos que os nossos meninos têm sempre razão e em que os trabalhos de casa estão no banco dos réus não será de estranhar algumas reacções a este elogio? Mas como explicar a nossa vontade de participar nesta homenagem ao Dr. Homero?
O Colégio de Arganil foi uma escola privada democrática antes da democratização da escola pública. Nele conviveram muitos alunos, alguns marcados por um percurso de insucesso em liceus e outros colégios e muitos outros que pertenciam a  um meio económico, social e cultural que os teria condenado ao insucesso. E fomos muitos os que tivemos sucesso. Homero Pimentel constitui um exemplo a seguir pelo rigor do seu trabalho, pelo seu entusiasmo generoso nas relações humanas, pelo seu respeito pelos outros, pela sua sensibilidade, pela sua cultura humanística, pela sua extrema modéstia.

Com o Dr. Homero aprendemos  a conhecer, aprendemos a fazer, aprendemos a aprender e aprendemos a SER: «pilares  da aprendizagem» para a sociedade do conhecimento» apontados no relatório da  UNESCO da Comissão Internacional para a Educação no Século  XXI,  coordenada por Jacques Delors.
No que me diz respeito, tive a sorte de ter outros «modelos» de professor na família, mas, certamente, foi por sua causa que me tornei professora de Português e de Francês e muitos exemplos de «boas práticas» que apresento aos professores que tenho formado aprendi-os no Colégio Alves Mendes. Obrigada Dr. Homero.      



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