Erick Hanushek esteve em Lisboa a proferir algumas conferências e deu uma entrevista ao jornal «Expresso intitulada «É preciso afastar os maus professores da sala de aula». Mas o que são os bons professores? Segundo o especialista em Economia da Educação da Universidade de Stanford, «os estudos mostram que a quantidade da formação de um professor não tem nada a ver com o facto de serem bons ou maus na sala de aula. Nos EUA, a maioria tem uma licenciatura: mas se tiverem um mestrado isso não nos diz nada sobre o que vai ser o seu desempenho». Também a experiência não explica o desempenho para o especialista.
Nuno Crato na mesma página do «Expresso», numa crónica sobre Eric Hanushek, conclui o seguinte: «E os professores devem ser seleccionados sobretudo com base no seu conhecimento das matérias que ensinam e não dos seus estudos de pedagogia - é outra conclusão que retira da mesma comparação internacional».
Se não tivesse assistido a tantas aulas de tantos professores, se não tivesse sido formadora de tantos professores de sucesso, tinha ficado triste. E são bons professores se se vê que «os seus alunos estão a aprender e se os seus resultados melhoram ao longo da vida». Tive felizmente muitos assim e acho que também formei muitos assim.
Concordo que nem todas as formações resultam e que nem todos os mestrados e doutoramentos têm implicações. Mas esta é uma componente obrigatória - ou deveria ser- de uma pesquisa em Educação ou de uma pesquisa na área «que ensinam» (cf Estudos sobre Didáctica das Línguas- Culturas de Robert Galisson).
Mas... a existência de cursos com nomes bonitos, mais perto de casa ou mais baratos determina, por vezes, a escolha!
Também concordo que um bom conhecimento das matérias que ensinam é fundamental. Para ser professor de Francês, para dar um exemplo, dominar a língua francesa, conhecer a cultura francesa, dominar aspectos metalingísticos e metaculturais (este é o objecto do ensino de uma língua) é necessário, mas ...como se põem os alunos a ouvir, a falar uma língua, a ler e a escrever numa língua sem uma formação adequada?
A matriz conceptual de Robert Galisson mostra a relação entre as diferentes componentes da situação educativa: Sujeito (aluno), Objecto (Língua- Cultura), Agente (professor), Grupo, Meio instituinte (sociedade), Meio instituído (escola), Espaço, Tempo.Considerar a formação de professores sem equacionar a relação entre estas componentes parece-me inadequada.
E agora tenho de dizer que fico muito preocupada porque todos os professores de Francês que conheço saíram do sistema. Muitos nem fizeram mestrado, mas fizeram estágios em Prtugal, em França (graças à Embaixada de França), estágios promovidos pela embaixada de França em Portugal, pela Associação Portuguesa de Professores de Francês, pelo Ministério, pelas Universidades, pelas ESE, pelos Centros de Formação... Até estavam em escolas com sucesso! Foram substituídos por colegas que não têm a possibilidade de fazer os mesmos estágios, fazem agora formações em áreas genéricas propostas pelas escolas, integradas nos tempos em que têm de estar nas escolas. Não têm formação em Didáctica das Línguas- Culturas, não vão a seminários, a conferências, a colóquios... (veja-se o que está a acontecer nos colóquios recentemente organizados). Não saem das escolas... E não têm experiência.
Mas para que servirá a formação ou a experiência?
Vamos esperar para ver!
Blogue de professora de didáctica das línguas, de análise do discurso dos média, de comunicação, de mediaculturas... com «aulas virtureais»... e alguns desabafos.
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