segunda-feira, 18 de julho de 2011

Google Effects on Memory

A capacidade de memorizar está alterar-se. Memorizamos mais facilmente a localização da informação do que esta, segundo estudo de Betsy Sparrow, publicado na Science. Memorizamos também mais facilmente a informação que achamos  que não está posteriormente disponível para consulta.
Isto faz-me pensar nos Power point que são dados ou não aos alunos. Parece que tenho razão em ter deixado de os disponibilizar. Primeiro os alunos tiram notas e depois...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Governo, os homens apressados e as «medidinhas»...

Bem queria confiar, mas pelo que tenho lido... um ministro a gabar-se de ter apresentado uma situação financeira do meu país em 180 segundos aos parceiros europeus! O formato Pechakucha é útil para apresentarmos comunicações em colóquios... mas... O que o Senhor Dr. Teixeira dos Santos demorou tanto tempo a explicar seria afinal assim tão simples?

E já agora a questão de um 1º Ministro que não quer residir na Residência Oficial. Será que este acto significa medo de assumir as responsabilidades? Não faço esta interpretação, até porque não sou psicanalista, mas faço outra baseada nos meus estudos que, por acaso,  levam muito tempo. O espaço  desempenha um papel simbólico  de poder que é bom que os governantes exerçam com competência. Um primeiro ministro deve respeitar esse lugar simbólico! Da mesma maneira que tem direitos pelo facto de desempenhar este cargo.  Prescindir de alguns pode ser útil para o país, mas, por exemplo, pelo que li... viajar em 2ª na TAP significa ocupar um lugar dos que eventualmente  seriam vendidos, quando, de todas as maneiras,  não pagaria em 1ª classe, lugar que possivelmente não seria vendido!

Quanto a Massamá, local que não conheço, mas já que adquiriu valor simbólico, será que não seria boa ideia o Senhor Ministro da Educação e o Senhor Ministro da Saúde fazerem  um pequeno - já não digo grande - de 2 ou 3 dias nos respectivos serviços nesta zona da periferia de Lisboa?

Sugestão de professora que conhece bem as escolas e até serviços de saúde!


A «bota não bate com a perdigota»... sublinho que o 1º Ministro parece utilizar menos expressões figurativas, nos últimos tempos. Anunciam-se medidas ridículas a embrulhar medidas tão dolorosas para tanta gente! Se, ao menos nós pudéssemos acreditar ... mas Senhores ministros, em termos comunicacionais, como os vossos assessores lhes devem dizer, estas medidas (polulistas num primeiro tempo) estão a «desqualificar» a comunicação dos assuntos sérios!   

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Festa dos tabuleiros... um encontro de culturas!



Festa pagã com a celebração da abundância, festa  inserida no culto católico ao Divino Espirito Santo ... momento de encontro de todos os tomarenses e familiares com cidadãos do Mundo... Marcada  por forte religiosidade... trabalho e  envolvimento, durante 4 anos,  de velhos e novos... este ano uma das ruas mais giras foi  decorada por gabinete de jovens designers moradores na rua!
Até pretexto para políticos, como o «Conde de Abranhos» local e outros aparecerem! Não havia necessidade! Seria preferível ficarem a estudar os dossiers!  Ou então serve de exemplo. Mostra como uma festa não se organiza de um dia para o outro! 

O ministro Conde de Abranhos

Tenho esperado para ver... Mas como não gosto do que estou a ver e  a ler sobre o novo Governo... Permitam-me que comece com a entrevista de Miguel Relvas (por exemplo, anteontem a passear-se em Tomar) ao jornal Templário  e que depois me centre no Ministro Conde de Abranhos.

Devo dizer que gostaria de não fazer estas associações, mas... por favor ...  Senhores Ministros ... já que a preparação  e experiência de alguns  parece não ser grande ... estudem dossiers! Fiquem em casa a estudar antes de falar! É um pedido sincero  e bem intencionado, recorrendo ao humor de Eça de Queirós.

Templário-  «Quais as expectativas em relação a este elenco governativo que acusam de ser tecnocrático?»


José Relvas -« As melhores possíveis. É um Governo dinâmico, de gente sã e muito bem preparada, que tem pela frente uma das mais difíceis tarefas de que há memória no Portugal moderno. É um Governo que vai devolver aos portugueses o futuro, não tenho dúvidas».

E passando  aos tempos de Eça de Queirós... conheçamos o Ministro Conde de Abranhos:
 
«Portugal sabe bem que o Ministério Nacional durou dois anos e o que foi a administração do Conde d'Abranhos nos negócios da Marinha e Ultramar.

Dois serviços que se completam e vivem um pelo outro – as Colónias e a Armada – constituem esse ministério, e, em ambos eles, Alípio Abranhos deixou os esplêndidos vestígios do seu génio administrativo. E notai que o Conde não era, como vulgarmente se diz, um homem do ofício. Até à idade de vinte e um anos – em que, nas. férias do ponto, fez uma visita à praia pitoresca de Buarcos – nunca tinha visto o mar. E esse formidável elemento, que cobre as quatro quintas partes do globo – mundo de trevas e de mistério, juncado de destroços, asfixiador, hostil ao homem – deu-lhe uma impressão que, segundo ele me disse, com aquele vigor pitoresco da sua frase, lhe fizera eriçar todos os cabelos do corpo.

Sempre detestou o mar, e se alguma vez passou a estação calmosa em Cascais, foi unicamente em respeito aos deveres sociais da sua posição no País, ou para comprazer com D. Virgínia, e depois com sua segunda mulher, a respeitável Condessa d'Abranhos. Tal era esta repugnância, que o Conde d'Abranhos nunca visitou a Inglaterra, porque, sendo esse

grande país dos Pitts e dos Chaucers infelizmente uma ilha, não lhe seria possível visitá-lo sem embarcar: e o horror do Conde aos navios era invencível.

Era mesmo um sacrifício grave, quando as suas altas funções o forçavam a visitar algum navio de guerra. De resto, a mesma paisagem marítima – essa infinidade de água azul – causava-lhe,como ele dizia, «um peso estúpido na cabeça», e é portanto mais para admirar que, com esta antipatia pelo mar e por tudo que dele vive ou nele trabalha, dirigisse as repartições da
Marinha com tão grande brilho.

Outra circunstância que torna mais admiráveis esses serviços, é o facto do Conde – tendo dado todo o seu tempo ao estudo das questões sociais – jamais se ter ocupado do conhecimento subalterno da geografia. Segundo ele dizia, nunca pudera reter todos esses nomes esquisitos e bárbaros de rios, cordilheiras, vulcões, cabos, istmos! Assim, por exemplo, nunca compreendeu, confessou-mo muitas vezes, esses cálculos estranhos degraus, latitudes e longitudes, nem dava grande crédito à ciência da navegação. E mais nos admiramos ainda dos serviços que prestou, quando sabemos que o seu conhecimento das nossas colónias não era detalhado. Disse-se, por exemplo, que só.depois de dezoito meses de ministro é que soube, por acaso, onde ficava Timor! Dezoito meses é um exagero pérfido de oposição mesquinha. Mas, aceitemos mesmo que só adquirisse essa insignificante informação depois de alguns meses de gerência dos negócios coloniais: – o queprova isso, senão que a sua vasta inteligência, toda voltada para os altos problemas políticos, não dava valor a essas pequenas ciências de exactidão local?

Uma ocasião, na Câmara, ele falava de Moçambique como se considerasse essa nossa possessão na costa ocidental da África. Alguns deputados mais miudamente instruídos dessesdetalhes, gritaram-lhe com furor.

– Moçambique é na costa oriental, Sr. Ministro da Marinha!

A réplica do Conde é genial:

– Que fique na costa ocidental ou na costa oriental, nada tira a que seja verdadeira a doutrina que estabeleço. Os regulamentos não mudam com as latitudes!

Esta réplica vem mais uma vez provar que o Conde se ocupava sobretudo de ideias gerais,dignas do seu grande espírito, e não se demorava nessa verificação microscópica de detalhes práticos, que preocupam os espíritos subalternos.

Não me compete, porém, nestas reminiscências íntimas do Conde d'Abranhos, fazer a história política da sua administração nos negócios da Marinha. Essa missão gloriosa pertence aos Herculanos e aos Rebelos do século XX.

Eu desejei somente, sem invadir o solo pomposo e difícil da História, deixar aqui consignado que, na minha opinião, de todos esses estadistas, esses poetas ardentes, esses moços de  largo sopro lírico, esses estimáveis cavalheiros que em Portugal, desde a outorga da Carta,têm dirigido os negócios da Marinha e Ultramar, nenhum, como Alípio Abranhos, compreendeu tão patrioticamente o espírito de que deve inspirar-se a nossa política colonial.»


As páginas do deputado Alípio Abranhos sobre educação ou reforma administrativa são uma delícia... Tudo é delicioso e há tantas semelhanças!






















REDINTER, multimodalité et eye tracking.

REDINTER

Intercompreensão é uma finalidade de toda a educação... todos procuramos compreender-nos  para podermos co-habitar (D. Wolton). É, assim , um valor, mas  que  pressupõe uma atitude ou atitudes de abertura, de disponibilidade, de prazer em estar com outros, certamente diferentes. (Foi isso que aconteceu, em Viseu, durante este fim de semana, na reunião internacional  organizada pela instituição coordenadora, a Universidade Católica)

Por isso, é reconhecida como uma «abordagem plural» no ensino das línguas. Abordagem que implica a adopção de estratégias de intercompreensão, recorrendo a recursos e dispositivos  numa pluralidade de línguas e linguagens e portanto multimodais. Entra na definição de Didáctica das Línguas -Culturas proposta por R. Galisson, já que parte da contextualização, implica  observação e conceptualização e tem implicações sociais.

A REDINTER tem federado estudos sobre  a própria definição, sobre práticas, sobre políticas de Intercompreensão. Veja-se a Revista REDINTER- Intercompreensão.

D'après moi,  modestement, ou pas modestement, la question de la multimodalité n'a pas suffisamment été mise en évidence dans la recherche sur l'Intercompréhension. Il me semble donc un domaine à approfondir. De même,  la recherche sur les processus de lecture à travers les possibilités ouvertes par les dispositifs de eye tracking.

Par exemple, comment avez-vous lu les deux extraits en portugais et en français.  Quels liens avez-vous suivi? Vos yeux se sont-ils  fixés sur quels mots, phrases...?

terça-feira, 5 de julho de 2011

APFG - no «caminho de Santiago»... impressões de viagem!

O meu caminho foi curto, não saí de Portugal a pé. Apanhei mesmo o avião! Mas devo dizer que gostei muito da cidade. Bem conservada e recuperada! Um exemplo para os nossos autarcas, nomeadamente para os de Tomar. A Catedral impõe-se pelas emoções que provoca num católico e pela beleza, o convento de S. Domingos e outras igrejas... O mercado é um espanto! Em pedra, mas simultaneamente muito arejado, com tudo muito bem apresentado. Não creio que as bancas sejam em inox (cf. mais uma vez o mercado tradicional de Tomar fechado pela ASAE e substituído por um pré-fabricado em «plástico», mas com bancas em inox!   

A fundação Eugénio Granell pintor influenciado por Breton que conheceu Cruzeiro Seixas! Por falar  de um  Português, o Museu Galego de Arte Contemporânea  de Sisa Vieira. Muito bonito exteriormente, mas tive dificuldade em encontrar a saída depois de ver as exposições e achei que nunca mais saía daquele lugar...! impressão estranha! Uma instalação que me disse muito enquanto professora de línguas, pois partia de fotocópias de manuais das «leçons des choses», quando o acesso ao sentido se baseava na reprodução de objectos, influência  de Maria Montessori....método directo- Fim do século XIX, princípio do XX. Quando vejo alguns materiais usados nos quadros interactivos multimédia não posso deixar de  pensar no recuo pedagógico que corresponde ao progresso tecnológico, mas com finalidade artística foi muito giro! E outra sobre a televisão!

Café Casino... para tomar uma bebida e contemplar o espaço e a recuperação!
A Universidade distribuída em espaços tradicionais e novos, com muitos jardins!

E as ruas com muita, muita animação!

E o acolhimento dos professores Galegos! Muito obrigada pela ocasião que  me deram de fazer o caminho de Santiago!

  

APFG- Conférence D'autres voies pour apprendre les langues

Pourquoi d'autres voies?
Quelles voies?


Voilà deux questions auxquelles j'ai essayé de répondre pendant ma conférence, dans le cadre des journées pédagogiques de Galicia. Mais vous devez attendre les actes pour savoir de quoi j'ai parlé!
Pour  ceux qui ont assisté, je laisse les links que j'ai proposés.
Pour inviter un avatar natif en classe.
Pour découvrir différentes langues.
Pour trouver des classes pour des échanges virtuels.
Pour sortir de la classe. 
Pour construire des scénarios.

Le chantier avant le cyber-chantier et l'approche actionnelle

Avant de parler du cyber-chantier, je parlais du chantier que j'ai  découvert chez Jostette Jolibert - qui l'a proposé pour  enseigner-apprendre à lire  et écrire avec des enfants (Former des enfants producteurs de textes... Hachette 1988) - et que j'ai décliné dans différents contextes, notamment, dans le cadre de l'enseignement supérieur : le chantier pour construction d' une communication scientifique, le chantier pour la construction de présentation multimodale, le chantier de séquence pédagogique... 

Même la désignation va dans le même  sens de l'approche actionnelle.

Voilà donc ce que j'ai écris à propos du chantier, en 2007, Didáctica do Português língua materna e não Materna no Ensino Básico. Porto Editora.

Com cortes e adaptações, um estaleiro de biografia para o ensino básico!

O estaleiro é um módulo de aprendizagem centrado na construção da escrita, organizado não numa perspectiva temática, mas sim numa perspectiva discursiva. Visa um modo de organização do discurso. Para esta unidade ou, por outras palavras, para este estaleiro (prática que adaptei da proposta do "Groupe d' Ecouen", coordenado por Josette Jolibert (1988), seleccionei o modo de organização narrativo e, dentro deste, privilegiei a biografia. (…)


Esta actividade  insere-se dentro de um projecto de aprendizagem: ser capaz de escrever uma biografia. O documento escrito poderá posteriormente ser transformado, com vista à construção de um documento vídeo (o que implicará, no entanto, uma preparação semiótica diferente).

A) Fase Pré-Pedagógica:

Em todos os casos, o professor terá de fazer, num primeiro tempo, uma preparação centrada sobre o modo de funcionamento do tipo de discurso ou do modo de organização discursiva que vai tratar. Assim, terá não só de recolher documentos que obedeçam a este modo do discurso (…), mas ainda de relacionar os conteúdos linguísticos com as noções gerais. Evidentemente, as noções de espaço e de tempo são obrigatórias em biografias; mas quais são os conteúdos morfológicos que melhor veiculam essas noções? Respondendo a esta pergunta, a gramática surge integrada. A selecção dos conectores temporais (Era uma vez, depois, entretanto, um dia…) vai implicar a utilização dos tempos verbais . Possivelmente, os alunos irão encontrar no mesmo texto todos os tempos do passado, o que fará com que o professor proponha actividades conducentes a uma sistematização simultânea destes tempos e dos respectivos conectores. (…) Aspectos que se prendem com a materialidade gráfica, como os espaços entre parágrafos, relação eventual com a fotografia, farão igualmente parte desta reflexão preliminar do professor.

Nesta fase inclui-se a selecção de documentos, como referido. O professor poderá recolher biografias de escritores ou cientistas em enciclopédias juvenis, textos literários biográficos, mas também biografias de cantores, atletas, actores em revistas sociais. Poderá ainda construir uma webquest com sites onde os alunos encontrarão elementos sobre uma personalidade do mundo das letras, das artes, da política…

Para criar situações de information gap, o professor poderá construir materiais, manipulando, por exemplo, os textos de modo a criar duas versões dos mesmos documentos.


B) Fases Pedagógicas:

Definição do Projecto

Terão de ser definidos os parâmetros da situação de comunicação, ou seja, quem vai escrever a quem, onde, quando, qual a finalidade. Este primeiro levantamento dos dados da situação de enunciação e, no fundo, de definição de projecto de aula, poderá ser feito sob a forma de brainstorming.


Primeira Produção

Pedir-se-á aos alunos que contem por escrito a vida de alguém. Trata-se da fase que J. Jolibert designa como “premier jet individuel”.


Confronto das Produções de Grupo

Terminada a fase anterior, os alunos vão confrontar as diferentes produções individuais, tentando chegar à caracterização ou levantamento de algumas formas constantes nos diferentes textos produzidos pelo grupo.

Comparação com Materiais Sociais – Actividades de Leitura

Em seguida, vão comparar as produções iniciais com materiais sociais; a partir do primeiro confronto das produções individuais com as produções dos outros elementos do grupo e com os materiais sociais, os alunos chegarão ao levantamento de algumas invariantes que caracterizam o modo de organização do discurso em questão.

Sugiro, assim, actividades que levam não só a descodificar, mas também a relacionar, a seleccionar, a formular hipóteses, a construir o sentido, como procurarei mostrar. Algumas destas actividades implicam uma leitura silenciosa e global, outras, uma leitura silenciosa e selectiva, outras, uma leitura extensiva, outras, uma leitura em voz alta.


Proponho um primeiro grupo de sugestões que implicam uma relacionação entre os conhecimentos do aluno e o texto, mediante um levantamento de vocabulário (cf. capítulo 3). A partir de cinco palavras dadas pelo professor, os alunos vão propor uma chuva de ideias.

Através, ainda, de uma chuva de ideias, poder-se-á levar os alunos a formular hipóteses sobre o conteúdo dum texto a partir do seu título, ou de uma imagem. Esta actividade de antecipação do sentido pode ser também realizada por meio de perguntas que os alunos formulam e a que, eventualmente, respondem mesmo antes de ler o texto. Realizando estas actividades, os alunos mobilizam os conhecimentos que têm sobre o assunto, o vocabulário, constroem frases, discutem o seu sentido entre si, fazem uma pré-semantização do texto, e só depois vão confrontar as suas hipóteses com os elementos do mesmo. Eventuais diferenças contribuem para um novo processo de negociação e de construção dum discurso argumentativo oral. Os alunos farão comentários deste tipo: “Eu achava que deveria ser assim... porque...”; “Afinal tu tinhas razão, porque o autor sugere que...”.


Seleccionar é a operação linguística e cognitiva que o aluno pode realizar quando se lhe pede que, entre alguns títulos, escolha o que lhe parece mais adequado ou, entre alguns resumos, o que lhe parece corresponder melhor ao texto lido. Poderá ainda hierarquizar frases que constituam um resumo dum dos textos lidos ou ouvidos. A justificação parece-me constituir uma das fases mais importantes desta actividade, implicando estratégias metacognitivas e a sua tradução num discurso argumentativo.


Algumas perguntas formuladas antes da leitura dum texto, através da grelha KWL, são indicações que levam o aluno a desenvolver processos selectivos de leitura, os quais vão ser necessários nas leituras autónomas, feitas nas outras disciplinas.

As perguntas ou levantamento de informações podem prender-se com o tema do texto, mas podem também estar relacionadas com aspectos formais, como a coerência textual. Neste caso, os alunos podem ser convidados a reconhecer os articuladores lógicos ou temporais dum texto narrativo (ou argumentativo ou explicativo) e estabelecer relações com as formas verbais utilizadas e as implicações dessas escolhas formais na construção do sentido. Evidentemente, esta reflexão leva a uma melhor compreensão de um texto de Ciências ou de História, quando o aluno tem necessidade de compreender o papel do articulador para reconhecer a noção de causa ou de consequência.

Aliás, o tipo de texto (publicitário, jornalístico, de manual de História, desdobrável, site) ou o modo de organização do discurso (descritivo, narrativo, argumentativo) determinam em parte o tipo de leitura a realizar. Assim, se na construção de um cartaz a materialidade gráfica é um elemento de coerência determinante, propõe-se que este tipo de documento seja submetido a uma leitura global realizada silenciosamente. Já num texto conversacional, na transcrição de texto oral, em diálogo extraído de obra literária, em alguns poemas, a materialidade sonora poderá ser um factor de coerência determinante, impondo-se, nestes casos, uma leitura em voz alta, como referido no capítulo 3.

Trata-se, evidentemente, de desenvolver estratégias de tipo interactivo: o aluno mobiliza os seus conhecimentos, as suas vivências e procura no texto elementos; mas o texto também lhe vai fornecer informações novas que ele vai tratar, relacionando os dois tipos de informação, descendente e ascendente.

Convém sublinhar que alguns dos exercícios de leitura propostos contribuem para a aquisição de métodos de trabalho facilmente transponíveis para outras disciplinas. Uns conduzem a leituras rápidas (leitura de títulos, formulação de hipóteses a partir destes, passagem rápida da introdução à conclusão, leitura rápida de números, relação destes com esquemas, quadros, diagramas...). Outros justificam uma leitura analítica, sendo importante treinar o aluno a estabelecer relações entre os encadeamentos temáticos, as configurações anafóricas, as formas de introduzir citações ou esquemas, etc.

A partir destes instrumentos de exploração textual, os alunos vão concluir que os vários textos que produziram e leram têm aspectos comuns e diferentes, vão identificar coerências e interpretar textos para resolver problemas.

Esta fase coloca em evidência o plano dos modos de organização dos discursos. Trata-se, assim, de uma proposta de trabalho que não se restringe ao plano temático – tradicionalmente enfatizado nas práticas de aula – mas que se abre para aspectos discursivos e pragmáticos.

Os alunos constatarão que, para além de as diferenças que resultam das biografias corresponderem a desportistas, cientistas, cantores, escritores..., se verificam semelhanças no modo de organização dos diferentes discursos. Apercebem-se igualmente das finalidades de um texto.

Exercícios de Exploração Textual

A partir da consciência que os alunos já têm do modo de organização narrativo, da identificação das características da biografia, faz-se um levantamento das dificuldades sentidas e passa-se à realização de exercícios de exploração textual, ao nível da gramática de texto e também ao nível da gramática de frase. No nível textual, estudar-se-ão a coerência textual (existência, ou não, de conectores; emprego de sinónimos e parasinónimos ou, pelo contrário, repetição exagerada de termos) e a progressão (cada parágrafo acrescenta algo de novo, ou, pelo contrário, repete o que já foi dito). A nível frásico, analisar-se-ão dificuldades lexicais, morfológicas, sintácticas e ortográficas.


Esta fase possibilita a actividade já referida de information gap. Proponho que o aluno A receba uma carta com uma tarefa determinada, por exemplo, a elaboração da biografia de um inventor; e que o aluno B receba um cartão com a fotografia do inventor e com perguntas que levem à descoberta da identidade deste. Na sequência da diferença de informação, simula-se a conversa entre os dois alunos.

Nesta fase, os alunos poderão, ainda, realizar exercícios de completar espaços, de transformação de frases, actividades de reconstrução de texto – por exemplo, puzzles em que reordenam partes dum texto, através de indicadores vários, como a materialidade gráfica (inclusão de gravuras, esquemas, espaços em branco, filetes, formatos diferentes, caracteres diferentes, numerações, pontuação...), como a sequência lógica, a relação entre os articuladores e os tempos verbais, os anafóricos (a parte do puzzle que inclui "o inventor", precederá certamente a peça onde surge "este inventor").

Outras actividades consistem na reescrita de textos, partindo, por exemplo, da transformação de frases em textos (o que implica uma reflexão sobre os processos de coerência e progressão); transformando a banda desenhada em texto linearizado (o que implica conversão de dados do código visual em dados linguísticos, explicitação dos dados temporais e espaciais, por exemplo); alterando tematização (em vez de se dar ênfase ao sujeito, “ O sr. X ...”, poder-se-á dar ênfase ao tempo, “A x horas/À tarde, o sr. X levanta-se...”, ou ao espaço , “No emprego/Em casa, o sr. X executa...”).

Outros exercícios de escrita podem ser feitos a partir de matrizes de textos (...)que vão sendo elaboradas à medida que os alunos vão lendo vários textos.

Revisão do Texto Inicial – Planificação de Novo Texto

Chegados a este momento, os alunos – que já exploraram ideias em interacção com colegas e professor, reconheceram “tipos de texto”, utilizaram informação de fontes diversas, seleccionaram a informação relacionada com um assunto, definiram para quem, o quê e com que forma querem escrever – vão reorganizar o seu texto. Antes da produção final, deverão fazer uma maqueta do texto, definindo os blocos que deverão constitui-lo, a materialidade do texto que vão escrever.


Elaboração da “obra-prima”

E assim, os alunos terminam o percurso, produzindo as suas "obras-primas": reescrita do texto ou produção de um texto semelhante.

Poder-se-á, nesta fase, propor a realização dum jogo: a construção da biografia de um "extra-terrestre", através da técnica do cadavre exquis utilizada por vários poetas surrealistas e pelo grupo de “Oulipo” (Ouvroir de Littérature Potentielle) (cf 4.3.3.3.) Numa grande folha de papel, um primeiro aluno desenha o que poderá ser a parte superior da cabeça de um extra-terrestre. Dobra o papel deixando dois traços nas extremidades do seu desenho de maneira a que o aluno seguinte continue o desenho, sem o ver. Este dobra novamente o papel, deixando as marcas para que o colega continue o desenho, e assim sucessivamente. Obter-se-ão assim vários extra-terrestres, em função do número de grupos. Em seguida, cada aluno poderá imaginar o planeta de origem do seu extra-terrestre, fazendo combinações com as várias sílabas de nomes de planetas.

Para determinar a data de nascimento, poderão proceder a adições ou subtracções a partir das datas de nascimento de todos os elementos dos grupos. Outro extra-terrestre, por suposição, distinguir-se-á no desporto: para determinar a modalidade, poder-se-ão combinar sílabas das várias modalidades existentes, procedendo-se de seguida à definição da nova modalidade...

Finalmente, os alunos irão escrever em grupo, ou individualmente, as biografias correspondentes aos extra-terrestres inventados.

Avaliação – Actividades de metacognição

Como forma de avaliação, os alunos irão confrontar estes textos finais com as produções realizadas no início, verificando assim os progressos realizados durante o estaleiro de construção textual. Evidentemente, se a produção for individual, a consciência da progressão é diferente. No entanto, só o contexto poderá aconselhar ao professor a adopção de uma ou outra forma de trabalho. Questões de gestão do tempo (e parece-me importante que o tempo desta actividade seja limitado – cf. comentário em epígrafe) e de motivação vão determinar a selecção do professor. Convém sublinhar que, nesta fase do processo, os alunos desenvolveram processos de reescrita, construíram instrumentos de avaliação, sendo por isso capazes de apreciar os seus progressos e identificar a recepção do seu produto junto do leitor.

(…)

Um último comentário prende-se com a necessidade de inclusão de limites temporais para as actividades pedagógicas. Assim, as várias fases do estaleiro terão de ter um tempo definido, logo ao princípio, pelo professor e pelo aluno. Há fases que implicam um tempo longo de descoberta e outras, pelo contrário, que poderão decorrer num tempo extremamente breve. Um brainstorming perde certamente eficácia se se desenrolar durante uma aula. A rapidez (tempo limite: 3 a 5 minutos) é uma condição necessária não só desta actividade, mas também de muitos jogos que podem perder a dimensão lúdica, quando realizados num tempo que não é o seu. (…).


Os estaleiros permitem, assim, estabelecer pontes entre a compreensão e a produção, permitem a alternância entre fases de produção dirigida e de produção criativa. Nestas unidades, os alunos não analisam só um texto, como é prática escolar habitual, mas vários extractos – único processo de poderem encontrar invariantes. Permite-se uma estruturação em estrela e não sequencial. Evidentemente, o tempo de descoberta e o tempo de produção terão de ser limitados, recorrendo-se por isso, em algumas fases, à correcção através de colagens, ou a processamento de texto, em computador.

A interdisciplinaridade assenta não unicamente na coincidência temática, mas numa perspectiva discursiva‚ outra das vantagens do estaleiro. Os alunos aprendem a ler, a escrever e a construir instrumentos para escrever e com que escrever.

Convém sublinhar ainda que o objectivo desta actividade não se limita ao desenvolvimento da competência linguística. É evidente que os alunos aprendem a gramática e o vocabulário de forma integrada, mas, simultaneamente, desenvolvem a sua competência discursiva, as suas competências referencial e sociocultural. Por outro lado, a alternância entre fases de trabalho em grupo, para reflexão, e fases de trabalho individual, de produção, preparam o aluno para as situações em que habitualmente é colocado, no seu dia-a-dia. O estaleiro permite ainda a integração de operações de planificação, de produção, de revisão, de avaliação de texto. Operações essas que são transponíveis para as outras disciplinas (determinando muitas vezes o sucesso nestas) e para a vida social.







 

«Intertextualidades»: Exposição de pintura de Antígona/Clara Ferrão

Está patente, até 6 de janeiro de 2024, no Centro Cultural Penedo da Saudade , do Instituto Politécnico de Coimbra, uma exposição de pintura...