quinta-feira, 14 de junho de 2018

Power point integrado na comunicação multimodal

A reflexão sobre a comunicação multimodal podem ser lidos nos seguintes post


https://universidadedepasargada.blogspot.com/2018/06/a-multimodalidade-em-discursos.html

https://universidadedepasargada.blogspot.com/2018/06/literacias-academicas-e-comunicacao.html


Já escrevi sobre a utilização do power point

https://universidadedepasargada.blogspot.com/2010/11/power-point-instrumento-de-preguica.html


Mas depois de ter participado recentemente em  três colóquios e depois de ter lido mais uns bons artigos em neurociências (e vulgarização das neurociências), ou melhor,  em  NBIC, vou voltar ao tema.
Para as considerações que vêm a seguir contam, igualmente, referências do domínio da análise dos discursos multimodais, da semiótica- nomeadamente dos «clássicos» que se debruçaram sobre as funções da imagem - estudos em ciências cognitivas, sobre as emoções... e observação e análise de muitas aulas, conferências, comunicações  «ao vivo» e na Internet (TED, Petchakucha, a minha tese em 3 minutos, «cápsulas» de aulas invertidas... Vídeos com especialistas de diferentes assuntos.

Enfim ...não sou «velha do Restelo», porque comecei a usar power point nas minhas aulas quando  poucos professores o faziam. Também não teço estas reflexões porque «sim», porque «acho»! Mas, porque construí um enquadramento teórico e  utilizei uma metodologia de investigação (observação etnográfica suportada em análise dos discursos multimodais) e chego a algumas conclusões, provisórias, como quase todas as conclusões...

Dadas as características do blogue,e adoto um formato mais «interessante» do que «demonstrativo».

https://www.wook.pt/livro/intercompreensao-revista-de-didactica-das-linguas/9857607
http://universidadedepasargada.blogspot.com/2013/10/multimodalite-du-non-verbal-la.html

Começo com várias frases provocadoras:
Deviam proibir os bons comunicadores de usar power point, prezzi...!
Power point «instrumento de tédio mortal»!
Não se aguentam as apresentações de teses de mestrado e doutoramento em colóquios!
Power point instrumento de preguiça mortal para professores e alunos (e reforço) preguiçosos!


Deviam proibir os bons comunicadores de usar power point, prezzi...!


Como desenvolvi em tópico anterior, os bons comunicadores não precisam de power point. Pelo contrário... Um bom comunicador sabe construir um discurso articulado e vai construindo o seu discurso, adaptando-o ao público e, até, vai  «aperfeiçoando» as definições de conceitos ou encontrando outros exemplos que não estavam nos tópicos preparados. A capacidade de improvisação está presente. A estrutura é  dada pelos conectores verbais  antecedidos dos  conectores não verbais  correspondentes (Em primeiro lugar,  gestos dos dedos).  Os performativos discursivos (Vamos identificar marcas, vamos comparar...) também são reforçados pelas mãos, os conceitos são acompanhados de gestos ilustrativos ou metafóricos...
O comunicador tem mãos livres, o olhar não está preso ao ecrã... e por isso o pensamento e a verbalização do mesmo fluem através do corpo.
Uma ou duas afirmações, para ser mais «científica»...

«La cognition est dans son essence même «incarnée» (Calbris, 2003:194)
«L'homme est un corps pensant» (Varella 2018)
https://www.scienceshumaines.com/francisco-varela-l-homme-est-un-corps-pensant_fr_38435.html

Estes tópicos estão desenvolvidos em outros post com as minhas comunicações.

A utilização do power point só se explica, neste caso, por uma questão de imagem de modernidade: «não quero que me acusem de não saber usar as tecnologias». Ou «posso esquecer-me...».
No entanto, se se quiser usar power point  é melhor só usar três ou quatro dispositivos com alguma imagem humorística, um esquema, uma citação...
E depois ... falar,  olhar e mãos livres!
Porque o comunicador fica livre para pensar e o público fica livre para pensar também.

O sentido da palavra imagem na expressão   «uma imagem vale mais do que mil palavras» tem de incorporar o corpo do apresentador, as suas deslocações, a postura,os gestos, o olhar...o espaço...

Por isso, já há alguns anos, eu dizia baseada nas minhas próprias observações: «power point não é cinema». No cinema, precisamos de nos isolar, numa aula ou congresso, de partilhar... Agora até a bioquímica  parece dizer que a luz é necessária para produzir oxitocina necessária à atenção!

Porque a exposição do comunicador é co-construída com o público. O público antecipa a partir dos olhares, dos gestos, das primeiras sílabas das palavras... mantendo a atenção. E memorizando...
Porque a «mise en mots »  do pensamento despende da mise en corps quer para quem fala quer para quem ouve. Recentemente,  assisti a conferência de grande comunicadora. Não precisava, mas utilizou power point muito bem feito, muito claro... Mas o projetor não estava configurado para o formato... E o que é que aconteceu... o público teve de estar muito mais atento ao que a comunicadora dizia. Ninguém se queixou! Porquê, porque a apresentação oral ficou muito mais interessante e interativa, exigindo muito mais do público que revelou muitas marcas de mise en pensée (adorei observar os efeitos comunicativos deste incidente tecnológico).
Os inconvenientes da apresentação, com frases cortadas,  obrigaram o público a antecipar (como os gestos que antecipam a verbalização) e haverá possivelmente mais facilidade na memorização...só posso falar por mim!
A comunicadora construiu uma história em que nos envolveu. E o formato narrativo parece que se vê no nosso cérebro e no do público. Não me aventuro por essas explicações, mas convido o público a ver o vídeo com a apresentação de Uri Hasson:

https://www.ted.com/talks/uri_hasson_this_is_your_brain_on_communication?language=pt 

Não é por acaso que muitas das melhores conferências TED têm muito poucos diapositivos.

E, agora, uma história pessoal.
Há uns anos fiz a «oração de sapiência» do IPS e tratando-se de formato retórico achei que não deveria usar diapositivos e... senti-me muito bem. No fim, colegas das tecnologias, que tinham torcido o nariz à minha decisão de não projetar nada, consideraram que teria tido razão...  Que tinham estado muito atentos!
Na altura, não sabia as razões da minha satisfação comunicativa e da reação do público... Agora, com as leituras recentes,  percebo melhor!
Daí  a frase provocadora do início: « os bons comunicadores (onde me incluo, já tenho idade para me gabar), deveriam, em certas circunstâncias, deixar o power point em casa ou... levar 2 ou 3 diapositivos com esquema, imagem, citação. A estrutura está na sua cabeça e passa para as cabeças que se encontram à sua frente e até pode ser modificada e co-construída no momento... não precisa de estar escrita.

Para a discussão dos outros casos...  convido os leitores a seguir os próximos post.

Literacias académicas e comunicação multimodal

Ou usos, abusos e maus usos do power point.

 Este tópico teria sido escrito de forma diferente, evidentemente mais cuidada e menos «achativa»,   para integrar comunicação a apresentar no Congresso da SPCE.

https://universidadedepasargada.blogspot.com/2018/06/a-multimodalidade-em-discursos.html
Como referi nos post anteriores


https://universidadedepasargada.blogspot.com/2010/11/power-point-instrumento-de-preguica.html
https://universidadedepasargada.blogspot.com/2018/06/power-point-integrado-na-comunicacao.html

Power point  pode ser  um «instrumento de tédio mortal»! Foi o título de crónica do público, há cerca de 10 anos,  ainda antes deste efeito de saturação que vou referir

E depois de ter assistido a dezenas de apresentações de monografias e teses e comunicações das mesmas eu acrescentaria de forma provocadora:

«Não se aguentam as apresentações em power point de teses de mestrado e doutoramento em colóquios!»

Vamos por partes, comecemos pelas teses: a estrutura de uma  tese nem sempre corresponde à cronologia do projeto de investigação que lhe deu origem. Ora, acontece que muitas teses  os estudantes reproduzem o tempo do projeto até porque não têm tempo ( tempo demasiado curto para o que se pretende)  de se distanciar para reformular as escritas que vão fazendo e construir um objeto coerente e coeso.

A cultura de investigação, hoje, adotou uma espécie de «template» para todas as investigações. Basta ler as fichas de avaliação de projetos e de artigos para se encontrar a seguinte estrutura (objetivos, questões, enquadramento teórico, metodologia, dados, discussão de dados, conclusões). As implicações ficam de fora quase sempre.... Ora as teses de professores que se inscrevem em programas de  educação, supervisão, didática têm de ter utilidade social. Se não servem para melhorar a Escola, o professor, os outros professores, as aprendizagens... para que servem? Não podem significar um preço alto das propinas que se traduz em mais uns pontos nas carreiras ou nas avaliações dos próprios e das instituições em relatórios nacionais e internacionais...  A obtenção de um grau também  não pode  implicar   menos atenção dos professores-  investigadores aos seus alunos durante o período da tese, o que ainda é mais grave.
Ora... estou farta de me perguntar para que teriam servido determinadas teses... por exemplo sobre as representações de professores, empregadores sobre as línguas ou usos de TIC... Não é preciso  «incomodar» um público com questionários e entrevistas para se saber que a língua mais valorizada é o inglês ou que toda a sociedade acha as TIC indispensáveis na vida dos cidadãos. Caricaturo de propósito...  
Aliás na formulação dos objetivos até se encontra o verbo «verificar»! 

Passando às apresentações, A estrutura é normalmente a que foi descrita, com mais ou menos cores, partes que se acrescentam ou se apagam, efeitos especiais vários. Ora... a cultura da universidade  francesa, onde fiz  o mestrado e dois doutoramentos, era bem diferente. Considerando que se trata de um exame e que o destinatário é o júri que vai avaliar um candidato não pode apresentar a estrutura da tese, o que seria sentido como um insulto ao júri que já leu a tese. Daí que o candidato a diploma fizesse um exercício diferente: uma leitura distanciada do seu projeto de investigação e da sua tese. Exercício difícil que exigia uma capacidade de metaanálise! Nos últimos júris em que participei, em Paris 3, a regra ainda era essa. O público ia reconstruindo a tese a partir das diferentes peças do puzzle que iam sendo discutidas, se fosse da área. Se não fosse, apercebia-se do ritual... Também se trata de exercício exigente que implicava uma enorme atenção. A tese não «lhe era dada» e como sabemos  « o que é dado não é apreciado».

Passando à divulgação de trabalhos académicos: também estes não podem ser «dados» todos da mesma forma ao público... Uma investigação tem de ser reformulada para ser divulgada ou  «vulgarizada» e é necessário que o seja para que a investigação tenha implicações junto dos outros investigadores e professores.

O investigador tem de fazer uma aprendizagem de como se divulga uma tese. Pode assistir , por exemplo, a algumas conferências TED. Verá que a estrutura referida quase nunca surge, a estrutura da comunicação   (não a da tese) é apresentada verbalmente  e  as imagens têm quase sempre uma função humorística ou complementar... são projetados 2 ou 3 esquemas...  O formato narrativo é normalmente privilegiado e as implicações são a parte mais importante de todo o percurso para apresentação num colóquio. Para o júri, o interesse pode estar na relação entre todas as dimensões, na metodologia, na análise dos dados... em pormenores... (Ver post anteriores e posteriores sobre comunicação multimodal ou literacias académicas)

Como nos colóquios o que é mais frequente é ir buscar o power point da defesa...
é isto que acontece: só se assiste à nossa própria apresentação ou simpaticamente às dos outros que apresentam na mesma sala (o que nem sempre acontece) ou, se o público quer aprender alguma coisa, como é sempre a minha perspetiva, chega-se ao seguinte comentário :« só vale a pena ir às conferências porque não se aguentam apresentações iguais durante dois dias! Que chatice!» 
Será por isso que  os professores  não vão hoje a colóquios e congressos?

A multimodalidade em discursos académicos- Congresso da SPCE

A multimodalidade em discursos académicos


Os últimos tópicos deveriam ser desenvolvido em comunicação a apresentar no Congresso da SPCE. Mas como, agora, os comunicadores pagam mais do que os não comunicadores, dado que as investigações são reconhecidas «ao peso». E como a inscrição era pesada, não vou. Escrevo aqui e tenho mais leitores! Até porque... ninguém assiste já a comunicações paralelas... Cada um vê a conferência inicial (quando vê!) «despacha» a sua comunicação e já está, já foi... Mais um artigo! E é preciso que não seja publicado em volume intitulado «Atas», porque esse não conta!
Aqui está o resumo que foi aceite



Resumo
Nesta comunicação, pretendemos  apresentar uma síntese de um  projeto de investigação desenvolvido sobre literacias académicas multimodais. Procuraremos, num primeiro tempo, definir os conceitos de literacia, de multimodalidade e de literacia multimodal. Num segundo momento, proporemos uma análise de exemplos de  discurso multimodal. Esses exemplos foram extraídos de dois tipos de corpora: um que é composto por  resumos e apresentações públicas de autores «reconhecidos» (apresentações em conferências TED, por exemplo); outro constituído por resumos de teses e registos de apresentações académicas.
A análise do  primeiro corpus permitiu-nos identificar  marcas  de operações discursivas e cognitivas, de natureza multimodal, como definir, parafrasear esquemas, introduzir outras vozes no interior de discursos académicos, resumir, concluir… e fazer o levantamento de processos adotados na «encenação» de discursos científicos e na sua divulgação, em relação com o enquadramento teórico convocado.  
O corpus constituído por trabalhos académicos colocou em evidência a dificuldade, por parte de muitos estudantes, na distinção entre a modalidade epistémica, a modalidade apreciativa e mesmo a modalidade deôntica. Colocou também em evidência a natureza, ainda pouco investigada dessas dificuldades, no caso das apresentações orais. O recurso a meios tecnológicos nas apresentações reforçou a heterogeneidade dos discursos o que implica um nível mais exigente de literacias académicas.
Considerando que, de acordo com o designado processo de Bolonha, com o  Decreto-Lei 74/2006, os estudantes dos diferentes graus  deveriam : «Ser capazes de comunicar as suas conclusões, e os conhecimentos e raciocínios a elas subjacentes, quer a especialistas, quer a não especialistas, de uma forma clara e sem ambiguidades», o que pressupõe a distinção das diferentes modalidades, este estudo revela que, em muitos casos, o desempenho dos estudantes manifesta algumas insuficiências.
Daí a necessidade, do nosso ponto de vista, da inclusão em planos de estudo de conteúdos e estratégias destinadas ao desenvolvimento de literacias multimodais.   
Palavras-Chave:  Didática das línguas-culturas, multimodalidade, as línguas nas outras matérias, literacia multimodal
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segunda-feira, 4 de junho de 2018

Didática das línguas-culturas, supervisão e comunicação multimodal

ESE de Castelo Branco, 7 e 8 de junho


Ver o início deste post em:

https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4008973240688193762#editor/target=post;postID=7372822702322864588;onPublishedMenu=template;onClosedMenu=template;postNum=2;src=postname

Conclusão sobre o ciclo de  videoformação

e convite para observar como se aprende a comunicar observando bons comunicadores para se conseguir a «distanciação».
O exemplo que apresento é retirado dos Clubes TED. TED propõe agora um programa às escolas para que as crianças aprendam a comunicar com os comunicadores profissionais das Conferências TED. Muito interessante! Não encontrei nenhum clube em Portugal. Haverá?


https://www.youtube.com/watch?time_continue=15&v=ly7PSsgh_QM

«Intertextualidades»: Exposição de pintura de Antígona/Clara Ferrão

Está patente, até 6 de janeiro de 2024, no Centro Cultural Penedo da Saudade , do Instituto Politécnico de Coimbra, uma exposição de pintura...