quinta-feira, 5 de junho de 2014

Videoformação , hoje! As empresas investem e a Escola?

Até que enfim que a formação de professores retoma as linhas da videoformação e do diagnóstico situacional! Investiu-se dinheiro em laboratórios de micro-ensino que foram abandonados dados os fundamentos beavioristas!  E parou-se no tempo! Houve alguns continuadores (onde eu me situo)! Nas empresas pagam-se fortunas (nem imaginam quanto custa uma sessão de PNL!) a «coachs» que utilizam as atividades que nós dominamos há muitos anos e que atualizámos com conhecimentos das neurociências!

TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO PRESENCIAL NA ERA VIRTUAL
13 de junho 2014 | 10h00 - 14h00 | sala 05.1.50
Departamento de Educação, Universidade de Aveiro

Destinatários:
Educadores e professores de todos os níveis de ensino e áreas disciplinares

Conteúdos:
Este workshop baseia-se na auto e videoscopia, como pontos de partida para a
consciencialização dos processos cognitivos, pedagógicos e atitudes assumidas
pelos docentes em contexto de sala de aula.

INSCRIÇÕES EM: http://www.ua.pt/cctic/

quarta-feira, 4 de junho de 2014

«Do "eduquês" ao "ignorantês"», por Maria do Céu Roldão



Um  texto de Maria do Céu Roldão que partilho, com muito gosto:


5 Dezembro 2013
Do “eduquês ao “ignorantês”….
Nas últimas duas décadas foi moda zurzir, com gáudio e impunidade, o conhecimento científico sobre educação – caricaturado na fórmula “eduquês”, amplamernte glosada nos media, como sendo a raíz de todos os males do sistema, a saber: facilitismo, desvalorização do saber científico, simplificação, ludicidade como panaceia, desconsideração do esforço do aluno, perda de autoridade…etc, etc. Como tenho sido uma das e dos muitos autores objeto deste ataque patético, planando ao sabor do populismo mais anacrónico, e tive até honras de citação (incorreta e descontextualizada, por sinal) num livro conhecido de um dos militantes anti-eduquês, tenho há muito vontade de dizer ou perguntar duas ou três coisas…não de argumentar a valia de um saber indispensável, porque para debater ideias é preciso que elas existam e se sustentem dos dois lados em confronto, o que não é o caso.
Na academia, onde a Educação é um território de conhecimento reconhecido há mais de um século, em contextos tão respeitáveis como Harvard, Chicago ou Oxford, podemos, e muitos o temos feito, argumentar nesse plano. Mas para os comentadores encartados e para os media, que lhes dão espaço e voz, nunca valeria a pena: o discurso científico “não interessa nada” como diria uma conhecida apresentadora de reality shows...E nem vende…. O que interessa é o sangue, o vilipêndio, as simplificações que dispensam as cabeças de pensar e alimentam os ódios insensatos, continuando a empurrar-nos para abismos de cegueira.
O saber sobre educação – pedagogia, ciências da educação no interior das ciências sociais, ou ciência da educação, dependendo das matrizes de análise e das tradições culturais e epistemológicas – é tão só o primeiro passo na indispensável rutura com o senso comum antigo que atribui a capacidade de ensinar a qualquer um que saiba algum assunto e tenha algum jeito, ou carisma, para comunicar. Como todos nos lembramos, até finais do séc. XIX, bastava pouco para ser professor, geralmente em tempo extra – alguma cultura ou saber, acrescido de uns pozinhos ideológicos a gosto do tempo: ser um crente confiável nos tempos mais antigos, uma pessoa respeitada no meio pelo seu saber e bom comportamento quando começa a sentir-se a premência da alfabetização (o farmacêutico, o pároco ou as mestras).
Rutura idêntica se passou, embora noutro ritmo e tempos, com os médicos – na pré-história da profissão médica, barbeiros, curandeiros e outros jeitosos na arte de curar, faziam esse papel como podiam e sabiam. É com o reconhecimento de um saber próprio e complexo, necessário para tratar e curar devidamente, que o joaosemanismo e o senso comum bem intencionado se esbatem em favor de uma atividade profissional fundada sobre rigoroso saber específico - raíz e legítimo fundamento do poder ganho por esta classe profissional nas sociedades modernas .
É com a criação da escola, instituição curricular destinada ao ensino público (mesmo quando financiada por privados), que nasce o reconhecimento da especificidade do conhecimento requerido para ensinar, e a existência de requisitos de formação para os professores. Mas como não se lida com a vida e a morte - embora se tenha o poder de abrir ou fechar o caminho para vidas mais dignas - o controlo social sobre o saber profissional do professor é mais ténue.
E aí estão os corifeus do ataque a dizerem trocistas que “quem sabe ensina” – e mais nada. Para quê floreados acerca do COMO ensinar, de COMO aprendem os alunos, de que ESTRATÉGIAS serão ou não eficazes?...Felizes com a simplificação, aí andam a opor conhecimento a competência, matérias a compreensão, memorização a raciocínio…Como se no mundo do conhecimento educativo não fossem justamente essas as questões que se estudam e se aprofundam. Mas eles não sabem. Nem acham preciso saber. Os próprios professores, custa-me dizê-lo, embarcam muitas vezes neste prós e contras primário do que deve ser o saber que nos distingue e nos valoriza - já não são os conteúdos? só processos? ou o oposto? ou ambos? competências? capacidades? então? ....ao sabor de legislação, mais que do SEU saber científico próprio
Ser professor consiste em ensinar porque se sabe ensinar. E para isso, é preciso saber o que se ensina (o conteúdo, sim sempre - quando é que alguém disse o contrário?) , e, bem mais complexo, saber como ensinar conforme aqueles a quem ensinamos .
Aí se situam o saber pedagógico, curricular, didático, distintivos desta ação, fundados nos saberes da psicologia, da sociologia e da organização do trabalho – pelo menos. Tudo isso constitui o corpo dos saberes educacionais indispensáveis a esta profissão, riquíssimos, difíceis e complexos. O que os que pouco sabem chamam de “eduquês”. Como se fosse uma farsa discursiva….
E assim o “ignorantês” que vem sustentando o ataque ao alegado “eduquês” parece preferir o louvor cego da “matéria” bem memorizada ( e que tal também compreendida? E como se faz isso? Talento inato? Ou aprende-se, é difícil, e requer MUITO saber..?). Não sei se já deram conta que estamos na era do saber síncrono e das ciências da cognição, de que aliás os professores ainda sabemos muito pouco... O ignorantês parece desprezar que se saiba essa tontaria de “como ensinar”; ensinem e pronto….back to the past – um passado bem antigo e marcado pela ausência de conhecimento… mas onde é fácil dizer que um - ou talvez dois - dos nossos professores era talentoso. Pois era, que bom… Talentos naturais sempre houve. Mas nem só de talento natural se faz um profissional…e muito menos uma profissão respeitada. Imaginem os médicos só na base dos talentos e da intuição..quem quereria ser tratado?...
E contudo, nesse passado da história da educação e dos professores, houve gente que pensou e visionou, para além do seu tempo, esta complexa função de ENSINAR que nos distingue. Que é seriamente estudada e investigada em centenas de universidades em todo o mundo. E que vozes desinformadas e fúteis do século XXI tratam como se fosse negligenciável. No século XVII – para quem o souber ler - escreveu Vieira, com preclara finura:
“O Mestre na Cadeira diz para todos; mas não ensina a todos. Diz para todos porque todos ouvem; mas não ensina a todos, porque uns aprendem e outros não. E qual é a razão desta diversidade se o Mestre é o mesmo e a doutrina a mesma? Porque para aprender não basta só ouvir por fora, é necessário entender por dentro. Se a luz de dentro é muita, aprende-se muito; se pouca, pouca; se nenhuma nada.”
António Vieira, Sermões


«Intertextualidades»: Exposição de pintura de Antígona/Clara Ferrão

Está patente, até 6 de janeiro de 2024, no Centro Cultural Penedo da Saudade , do Instituto Politécnico de Coimbra, uma exposição de pintura...