sábado, 31 de março de 2012

TIC, power point e... papel... e neurociências 3

Dizia eu que as apresentações dos estudantes se sucediam (como as de professores e investigadores em muitos colóquios) todas iguais... templates diferentes, efeitos, cores e caracteres diferentes... mas faltava o que Tatiana Slama Cazacu designava, antes das apresentações multimédia, de «sintaxe mista». Faltava a multimodalidade. Muitas vezes me levantei das últimas filas para obrigar os estudantes a sairem da frente da projeção,  a olharem para o público, a levantarem-se, deixarem os papéis em paz, tirarem as mãos dos bolsos... e a verbalizarem os conectores  temporais e lógicos (agora,  a seguir, mas, no entanto)... e a fazerem os gestos discursivos correspondentes... Insistia  na função de antecipação do gesto (também da imagem projetada).

Mas eu própria tornei-me preguiçosa... e passei também a suprimir conectores verbais e icónicos e, não foi por acaso, que uma colega especialista em comunicação multimédia  me dizia que  «das minhas conferências e comunicações  a que tinha assistido, a «oração de sapiência» (pouca acrescentaria eu)  tinha sido a  que  mais lhe agradara apesar de, na mesma, eu ter seguido as normas de ausência de tecnologias...».

E que prazer ouvir e ver Jean Claude Beacco, no  Colóquio da FNAPLV referido, sem power point...!

A banalização  mata qualquer suporte, mas há mais...

Tinha explicado aos meus alunos a função comunicativa dos gestos. Tinha referido Goodwin que fala da integração do olhar na estrutura interativa do enunciado. Se o olhar dos estudantes está preso ao ecrã dos respetivos computadores, como é que o estudante que está a fazer uma apresentação pode regular a comunicação?

Tinha insistido sobre as funções discursivas, ilustrativas,  reguladoras e afetivas dos gestos. Mas  não  me tinha apercebido das funções cognitivas dos gestos. E insistia no conceito de multimodalidade junto dos meus alunos.
Ver:

FERRÃO TAVARES, Clara, SILVA, Jacques & SILVA E SILVA, Marlène (2011). La formation actionnelle (et) multimodale des enseignants de langues-cultures. Actes du Colloque FICEL – DILTEC : Formation et professionnalisation des enseignants de langues – Évolution des contextes, des besoins et des dispositifs, Université de la Sorbonne Nouvelle – Paris III, 3-4 novembre 2011 (No prelo).


Também me tinha apercebido da minha dificuldade em resolver um problema técnico no meio de uma apresentação tão simples como avançar ou recuar  um diapositivo quando estava a falar... justificava essa dificuldade, de forma simplista, pensando  que era um desfasamento entre o hemisfério esquerdo da verbalização e o direito do movimento... talvez não seja assim tão diferente...

Depois havia a minha incapacidade de recuperar  apresentações de uma aula para a outra... e a interrupção de uma apresentação com o recurso ao quadro tradicional... Fico espantada quando vejo professores, ou melhor «passadores de diapositivos», a apresentarem sempre os mesmos diapositivos!

E havia a total incapacidade para depois de ter aprendido usar o  QIM.  Pensava que  a  minha temporalidade  e a do QIM eram incompatíveis... Também não andaria muito longe.

Vou escrever dois artigos que vou propor a Synérgies -FranceSynérgies -Portugal e aí... voltei ao meu tema de doutoramento nunca abandonado... a comunicação não verbal agora integrado  na multimodalidade, mas o tempo não era muito e, agora,  estou  a estudar a função cognitiva do gesto. Este surgirá numa fase  de conceptualização anterior à verbalização. De forma simplista, se o meu gesto que levaria à conceptualização é modificado pelo facto de manipular o computador ou o comando, não há semantização... logo não há verbalização (cf Robert Krauss, por exemplo).

Na utilização do quadro tradicional e de papel há um reforço da semantização com a escrita, a verbalização e o gesto que se mantém apesar da manipulação do marcador.

Mas ainda estou a aprofundar o assunto.

Este post  continua com as referências bibliográficas em outros momentos e nos artigos referidos...


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