terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

«E assim se fala português...»

Os neologismos , os empréstimos justificados ou não, os termos de que gostamos e outros…

No Caderno P2 do Público do dia 26 de Janeiro , João Bonifácio escreve ironicamente: « O novo português não precisa de se concentrar - precisa de se “focalizar”. Não tem de ser resistente -tem de ser” resiliente”. Não imprime um texto-“printa”: e não tem esperança-tem “ilusão”». E o autor, recorrendo às “vozes” de alguns linguistas, tece considerações sobre alguns vocábulos.
Fiquei a saber que Quique Flores tinha a «ilusão» de ser campeão e , assim, compreendi a razão da troca de esperança, por ilusão. Ilusão em Português emprega-se em frases com sentido contrário. Outros empréstimos do inglês são referidos como “focalizar”, “salvar”,”printar””deletar”… quando não havia razão para pedir palavras emprestadas uma vez que a nossa língua tem “concentrar”, “gravar”,” imprimir”, “apagar”… Refere ainda mudanças de sentido de “realizar” para aperceber-se de» (.«Só nesta peça realizei as razões para o emprego de «ilusão» com o sentido de esperança», por exemplo).

Também percebi nesta peça que o emprego por parte dos meus alunos de “onde” quando se deveria dizer “em que”, afinal , se está a estender a outros falantes. ( “onde” localiza no espaço e “em que” no tempo e espaço).

Outros termos haveria a acrescentar como “implementar”, “elencar” e outros que ficam sempre bonitos num discurso em educação ou comunicação.Mas há outros termos que me incomodam um bocadinho. Um deles, até está correcto, mas pelo excesso do uso e pelas conotações negativas que tem para mim … não gosto dele. É o termo “mais- valias”.
Por exemplo, a presidente do Instituto de Linguística , Maria Helena Mira Mateus, no Expresso desta semana , refere que «é um erro esquecer que o conhecimento e o uso do português constituem uma mais-valia no campo das interacções económicas».
Está correcto, mas , para mim as “mais- valias” são impostos e, apesar de pagar os meus impostos, não gosto de pagar mais-valias quando os meus pais, por exemplo, fizeram um esforço tão grande para adquirir um determinado bem.!.E depois... no eduquês, mediatês, politiquês…. tudo são mais-valia: as TIC, os quadros interactivos, a televisão, os Magalhães, …os exercícios… Também tudo é «muito gratificante»! Ainda bem, mas com tanto emprego deste termo, o gratificante torna-se banal e deixa de ser gratificante!

Já para não falar do emprego de termos sem o conhecimento do sentido. Já li num artigo publicado a partir de dissertação de mestrado, por exemplo, "os resultados auferidos" por "aferidos", por exemplo...

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