quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Antes e depois do 25 de Abril... a memória é curta e a ignorância atrevida!

Filha e neta de professores sou privilegiada.

Mas, não me posso esquecer de,em menina, ser acordada por pessoas que batiam à minha porta, com outros meninos nos braços, para o meu pai os ir levar ao hospital, a Arganil - só havia dois automóveis, na aldeia. Desidratados , como agora se diz, com meningites, febres altas... No dia seguinte, tocavam os sinos e eu ficava encolhida e triste! Mais uns números para a mortalidade infantil!

Na escola, os meninos comiam sofregamente as sandes de queijo da Cáritas (que eu achava horrível), a marmelada e bebiam o leite (também da Cáritas). A minha mãe (a professora), a Sr. Dª. Arminda e o Sr. Lopes fundaram uma cantina. Mas a minha mãe geria a cantina. Vinham os cestos de couves lá de casa, as batatas, o azeite..., a minha mãe organizava festas escolares e cortejos de oferendas (e as pessoas davam o que podiam) e... assim passou a haver sopa na Cantina. Os meninos passaram a ter uma sopa com carne e feijões que devoravam. Pelo menos... comiam uma vez por dia!

Era assim o papel do Estado! E, no entanto, pagavam-se impostos.

Os meus colegas de escola, bons alunos, queriam estudar, mas não podiam ... e então a professora falava para o seminário e lá tentava encaminhar os meninos que queriam - nem todos saíam padres, mas continuavam os estudos. Com alguma conversa com o Director do Colégio de Arganil...lá conseguia encaminhar outros...

Alguns avançaram, mas foram muitos os que foram ficando pelos vários patamares.

Era assim a escolaridade «obrigatória» que o estado proporcionava!

Conheci a crise académica de 68. Vi carros com arame farpado, carros com gases...colegas presos!

Como cedo quis ir a França(no 2ºano da universidade) frequentar um curso de férias - com a ajuda dos pais e dinheiro obtido em explicações - passei meio dia na PIDE para obter um passaporte!

O meu marido entrou na Marinha, no dia a seguir ao nosso casamento. Foi mobilizado para a Guiné. Fui à Guiné visitar marido na guerra.
Era a guerra!

Só um pequeno testemunho para avivar memórias ou dar a conhecer memórias de outros tempos!

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