Um palimpsesto é um «papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi rasgado para dar lugar a outro» (Dicionário Houaiss). Robert Galisson utiliza este termo para mostrar como a cultura impregna a língua, já que, por detrás de um enunciado se encontram muitas vezes outros enunciados, como «un train peu en cacher un autre».
A redacção de slogans e de títulos de jornais está cheia de palimpsestos. Veja-se, por exemplo, o título de uma peça sobre a necessidade de reduzir nos gastos dos casamentos na Índia por causa de escassez de alimentos: «Casamentos debaixo de fogo». O leitor reconhece facilmente «debaixo» deste título o título do filme«Casamento debaixo de chuva» Quem viu o filme associa os gastos exagerados nos casamentos à miséria circundante
Um dos palimpsestos mais frequente prende-se com o retomar do título do filme «E tudo o vento levou» quando acontecem tragédias. O «levou» transforma-se em «arrastou, varreu…» Este processo contribui , evidentemente, para acrescentar dados culturais implícitos. Por exemplo, não foi só uma questão de estilo a utilização repetida deste palimpsesto. durante o temporal de Nova Orleães. A alusão ao Sul dos Estados Unidos e à morte de muitos negros poderia ter sido lida «em palimpsesto».
O título do livro de Kundera «A insustentável leveza do ser» é frequentemente declinado em diferentes contextos.
Um dos palimpsestos mais interessantes para reforçar a questão da perda de identidade nas operações plásticas foi publicado há uns anos no jornal Público..Por esse motivo, resolvi mostrá-lo aqui. Nenhum dos meus alunos conseguiu, na altura, identificar «Les amants» de Magritte em palimpsesto,. no entanto foram vários, não todos, a relacionar o imaginário das histórias infantis na ilustração da peça «A moda dos programas de cirurgia plástica chega a Portugal».
Como tenho referido as mediaculturas caracterizam-se pela «mestiçagem» de culturas. A cultura erudita é mediatizada ou é introduzida em palimpsesto. Colocar uma imagem num texto não é um processo simples de justaposição. O conceito da imagem tem de reforçar (entrar em contradição) com o conceito do texto. Construir um site, um dossiê de imprensa, um power point implica identificar primeiro conceitos, para depois ajustar as metáforas icónicas às linguísticas.
Blogue de professora de didáctica das línguas, de análise do discurso dos média, de comunicação, de mediaculturas... com «aulas virtureais»... e alguns desabafos.
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