quarta-feira, 3 de novembro de 2010

« A Internet está a mudar-nos o cérebro»

Andava preocupada: não ando a conseguir ler como habitualmente. Deixo livros por acabar, passo dias sem ler o mesmo livro... salto de livro em livro...retomo páginas porque já não sei se as li. É verdade que criei um blogue, entrei nas redes, tenho disciplinas on line...

Maryanne Wolf, cientista americana que estuda o cérebro, refere, segundo Clara Barata, na peça «Como a rápida Internet está a conquistar o cérebro aos vagarosos livros» , Pública do dia 31/10/10 : «A minha necessidade de velocidade, fomentada nos últimos anos pela Internet, tornava-me impossível desacelerar e concentrar-me», confessou». Clara Barata cita, também, um jornalista de tecnologia norte-americano Nicholas Carr que confessa: «A leitura aprofundada que antes me vinha naturalmente tornou-se agora numa luta».

Portanto parece que estou acompanhada. Será que o meu cérebro também está a mudar? O cérebro parece que muda efectivamente. No meu caso, não será grave, o cérebro é suficientemente adaptável, para retomar as funções da leitura aprofundada, desde que eu decida mandar o computador e o telemóvel de férias - o que faço facilmente. Mas os nativos digitais são móveis, incapazes de tomar esta atitude...e depois ... será que terão treinado o cérebro para leitura profunda? Retomando CM Wolf (citada em A Pública- jornal Público de Domingo passado) « O receio é que a rede, que traz até nós todo o conhecimento humano que pode ser posto online, esteja afinal, a transformar-nos em 'leitores superficiais»?

Mas não sejamos pessimistas. Segundo outros estudos «usar a Internet activa mais áreas do cérebro do que simplesmente ler. A Internet pode ser uma forma de exercício para a mente» (id.). Mas também pode exigir tanto exercício que esta pode cansar-se e deixar de guardar informação, levando à superficialidade na compreensão, dificuldade de concentração da atenção, dispersão...dificuldade de relação com os outros, perda da capacidade de empatia. O Professor Castro Caldas, citado no mesmo artigo, é felizmente mais optimista. Para este neurocirurgião, « a Internet é um produto do pensamento humano, adaptada ao pensamento humano» e os riscos dependem da situação.

Esta discussão leva-me a reler a brochura sobre «As implicações das TIC na aula de Língua» (em publicação DGIDC- ME) e alguns artigos feitos no âmbito do Programa Nacional para o Ensino do Português. As propostas feitas por mim e por Luís Filipe Barbeiro, há 5 ou 6 anos, sobre a necessidade de ensinar a ler no ecrã e na rede- a par do papel- parece fazerem ainda algum sentido.Até quando? Espero que a publicação da brochura não se atrase muito!

1 comentário:

  1. Senhora Professora,
    eu também "andava preocupada: não ando a ler como habitualmente" só que este fim-de-semana, consegui (re)ler num serão (bem prolongado) um dos livros de Martine Provis- les chemins de pierre. Voltei a gostar do romance, em francês, sobre a vida de uma criança maltratada pelos próprios pais que se tornou uma mulher forte e cheia de coragem, no pós-guerra. Gostei de ler, de reler e de fazer uma leitura "lenta" como diz a Senhora Professora. Florência Basilio / Mestranda I/F - ESCB

    ResponderEliminar

«Intertextualidades»: Exposição de pintura de Antígona/Clara Ferrão

Está patente, até 6 de janeiro de 2024, no Centro Cultural Penedo da Saudade , do Instituto Politécnico de Coimbra, uma exposição de pintura...