quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Trabalhos dos estudantes em Mestrado de Bolonha

Dissertação, trabalho de projecto, relatório de estágio profissional nos Mestrados

Segundo o Decreto- Lei 74/2006 «Só podem conferir o grau de mestre numa determinada
especialidade os estabelecimentos de ensino superior que, nas áreas científicas integrantes da formação a ele conducente:
• Disponham de um corpo docente próprio qualificado(…);
• Disponham dos recursos humanos e materiais indispensáveis a garantir o nível e a qualidade da formação adquirida ;
• Desenvolvam actividade reconhecida de formação e investigação ou de desenvolvimento de natureza profissional de alto nível ».

A inserção da investigação na formação decorre do espírito de Bolonha desde o 1º Ciclo do Ensino Superior (cf Competências do licenciado a desenvolver).

Com a vontade de diferenciar o Ensino Superior Universitário do Politécnico, a legislação acrescenta

«No ensino universitário, o ciclo de estudos conducente ao grau de mestre deve assegurar que o estudante
adquira uma especialização de natureza académica com recurso à actividade de investigação, de inovação ou de aprofundamento de competências profissionais.
No ensino politécnico, o ciclo de estudos conducente ao grau de mestre deve assegurar, predominantemente, a aquisição pelo estudante de uma especialização de natureza profissional.»

Mas dispõe o artigo 20º
1—O ciclo de estudos conducente ao grau de mestre
integra:

(…)
Uma dissertação de natureza científica ou um trabalho de projecto, originais e especialmente
realizados para este fim, ou um estágio de natureza profissional objecto de relatório final, consoante
os objectivos específicos visados, nos termos que sejam fixados pelas respectivas normas».

Neste caso, não há distinção entre a instituição que concede o grau mas uma «tipologia textual».

Os articulados destes artigos têm levado a várias interpretações, com diferentes formulações nos regulamentos de cada instituição sobre os trabalhos de curso, correndo-se o risco de surgirem trabalhos de natureza científica e discursiva de nível completamente diferente, consoante as instituições.


Este artigo pretende abrir uma discussão à volta deste tema.

Definitivamente, nenhum dos trabalhos finais de Mestrado é considerado como uma tese quer dizer uma proposição intelectual com quadro teórico preciso e sustentada com base em dados originais, contribuindo para o avanço da Ciência.
Trata-se de uma dissertação de natureza científica ou um trabalho de projecto, originais e especialmente realizados para este fim, ou um estágio de natureza profissional objecto de relatório final

Então o que é uma dissertação científica ou monografia?
Recorrendo propositadamente a uma fonte do «cidadão participativo» , Wikipédia. Apesar das convenções dos discursos do ensino superior serem por vezes diferentes, parece-nos que esta definição para o grande público se revela adequada.

«Monografia é uma dissertação (em sentido lato) sobre um ponto particular de uma ciência, de uma arte, de uma localidade, sobre um mesmo assunto ou sobre assuntos relacionados. Normalmente escrito apenas por uma pessoa. É o principal tipo de texto científico. Trabalho acadêmico que apresenta o resultado de investigação pouco complexa e sobre tema único e bem delimitado.

Na monografia (dissertação) para a obtenção do grau de mestre, além da revisão da literatura, é preciso dominar o conhecimento do método de pesquisa e informar a metodologia utilizada na pesquisa.
Dissertação científica, ou simplesmente exercitação, é o trabalho feito nos moldes da tese, com a peculiaridade de ser ainda uma tese inicial ou em miniatura».



No projecto e no relatório de estágio restringe-se o âmbito do trabalho, o número de páginas, mas a natureza do trabalho mantém-se. Assim, os trabalhos finais do ensino superior têm implicações no desenvolvimento da própria ciência e/ou implicações na acção, sendo a acção mais evidente na dissertação, projecto e relatório de estágio.

No trabalho de projecto ou do relatório de estágio, o estudante- investigador- trabalhador vai conduzir um projecto ou animar um estágio, tendo o seu trabalho implicações na acção. Mas dada a caracterização legal destes trabalhos, estes não se restringem à acção.

A confusão entre um trabalho com acção e um trabalho de investigação-acção ou intervenção parece-me o primeiro risco destas interpretações de Bolonha.Com efeito, interrogo-me se só com acção (sejam autónomos façam, construam...) o estudante desenvolve as competências apontadas para este grau.

Para ter implicações na acção(ser de natureza aplicada) um trabalho final vai partir da observação de um contexto profissional que vai fazer emergir questões (problematização), que exige fundamentação (enquadramento teórico) para identificar correntes e autores que abordaram o assunto antes do estudante e conceitos e categorias de análise. Ao mesmo tempo, o autor do projecto ou o estagiário vão conduzindo a acção,(criando um determinado produto, desenvolvendo uma determinada sequência pedagógica, construindo um site...) apercebendo-se do antes, do processo e do depois. Ao mesmo tempo que desenvolvem a acção, servindo-se dos dados do enquadramento teórico para Fundamentar a sua acção e analisar o seu caso, encontram novas categorias em outros autores ou na observação própria. Têm evidentemente de «fazer falar os dados», interpretá-los, analisá-los para determinar se os mesmos respondem ou não (ou parcialmente) às questões-problemas levantados. Chega a altura de se interrogarem sobre as implicações do seu trabalho - para eles próprios, para o público, empresa, contexto…tecnologia, ciência- e sobre o futuro do trabalho realizado.

Assim sendo, todos os trabalhos de fim de curso, independentemente da profundidade, do número de sujeitos ou objectos «interrogados», do tempo, do número de páginas, da integração ou não em equipas de investigação… exigem as mesmas competências da parte do estudante-investigador- , daí se compreendendo que, no Decreto- Lei Nº 74/2006, as competências não sejam diferenciadas.

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