Num artigo publicado no Brasil , na Revista Recortes, em que retomo partes do texto da aula das minhas provas de Agregação, retomo a distinção de Hocq de regras de encenação de discursos televisivos.
«Para a produção e a encenação do discurso mediático, C. Hocq (1995) enuncia cinco regras:
A revelação : em televisão a tónica é posta no segredo. As grelhas de programação são mantidas em segredo até ao momento de sessões públicas de apresentação, as mudanças de apresentadores e de animadores obedecem a conversas “secretas”. Cada estação de televisão procura sempre mostrar o que a outra ainda não conseguiu. Mostra-se mais do que se demonstra ou se explica. Mesmo o discurso de apresentadores é frequentemente marcado pela utilização dos termos “secreto”, “segredo”, “escondido”, “surpresa”, “revelação”. Como o afirma Hock: “esta postura oculta por vezes uma posição de princípio: Só é interessante o que está escondido”.
A anedotização , o exemplo: em televisão recorre-se frequentemente ao exemplo, ao testemunho. Quando os acontecimentos são pouco significativos, como em determinadas épocas do ano, como as férias, a televisão sai para a rua para contar histórias pessoais do quotidiano, vai entrevistar o homem da rua ... como modo de atrair a atenção do espectador. Por metonímia, passa-se do particular ao geral. A história, o testemunho atraem a atenção e são facilmente memorizáveis. Mesmo bons documentários recentes estão a servir-se deste processo que pode assumir uma dupla função de sedução e pedagógica.
A narrativização e a dramatização : Os programas de televisão adoptam frequentemente formatos narrativos. Aliás a narratividade não se circunscreve à ficção. Documentários, telejornais, concursos, debates adoptam este formato. Como sublinhei, no discurso dos apresentadores é frequente encontrar vocábulos como heróis, opositores referências a situações de equilíbrio, rupturas, complicações, desenlaces, quando se fala de economia, de política... Os jornalistas recorrem muitas vezes ao discurso teatral ou guerreiro para pôr em cena o seu discurso e implicar o telespectador.
A esquematização . Os media recorrem frequentemente a esquemas, reduzem frequentemente pessoas e factos a oposições de bons e maus, sinceros e hipócritas. Opõem o antigamente ao hoje, o natural ao industrial».
HOCQ , P. L'information comme “construit social”. Les mécanismes de production du discours journalistique. Education et Médias , nº35: Clemi, 1994 .
Blogue de professora de didáctica das línguas, de análise do discurso dos média, de comunicação, de mediaculturas... com «aulas virtureais»... e alguns desabafos.
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