Quando se observa uma aula a primeira dimensão a ter em conta é o espaço. O espaço desempenha funções simbólicas, relacionais,comunicativas ou interaccionais, funcionais (passe a repetição).
O espaço panóptico - das prisões, igrejas(com o púlpito) universidades antigas (com cadeira do professor) - desempenha função simbólica, reforçando o poder dos agentes e marcando a distância que os separa dos outros, e comunicativa (todos os participantes podem ver o orador); Serve para a função de argumentação e de informação da mensagem do orador.
A escola tradicional baseava-se em tarefas escritas por parte dos alunos, daí as carteiras que «isolavam» os alunos nessa tarefa- a escrita individual exige espaço - e na apresentação oral ou escrita por parte do professor ou do aluno «chamado» ao quadro. O espaço e o quadro desempenhavam a função comunicativa dados que todos podiam ver o orador. E o orador «controlava» as tarefas de escrita. Reforço do seu papel que «sabia manter as distâncias».
Com métodos mais «modernos» o aluno- aprendente passou a «estar no centro do processo educativo - o que se compreende em parte, mas a escola ficou «desarrumada». As distâncias foram reduzidas, a dimensão relacional foi acentuada - por vezes não a interaccional ou comunicativa. O que não é necessariamente bom ou mau.
Numas salas as cadeiras estão dispostas em U ou V, estando o professor no centro do dispositivo. Assim, muitas vezes, não olha para os alunos que estão nas extremidades e não lhes dá a palavra. Noutras salas as carteiras estão em filas: espaço funcional para a escrita, mas os alunos estão de costas voltadas quando falam. Em outras salas há grupos de quatro ou seis mesas colocadas de qualquer maneira. Mas como se destina ao trabalho em grupo, os alunos têm condições para trabalhar, mas não para partilhar os trabalhos feitos. Que acontece então? Como tenho visto, o professor lê um texto atrás e os alunos viram a cabeça, quando viram, para olhar para o professor, outras vezes circula enquanto fala e tem de repetir cinco vezes para ser ouvido pelos cinco grupos à medida que circula e que obtém o olhar de algum aluno, que explica aos outros... Um aluno sentado explica aos outros que estão atrás o que o grupo fez e ... ninguém ouve ninguém.
Além disso, a proximidade, a invasão do território de um aluno por outro, gera situações de indisciplina.
O quadro interactivo multimédia veio retomar a disposição tradicional da sala. O espaço panóptico reaparece com o estrado. A apresentação multimédia completa a apresentação verbal e não verbal de professor e aluno em situação expositiva ( o que até estará bem - o professor tem de explicar e tem de aprender a explicar e ensinar aos alunos a explicar e ... partilhar. (Toda a gente explica tudo hoje, então com power point!!!...mas, muitos professores têm medo de dizer que explicam, que também recorrem a métodos expositivos!). Mas os computadores portáteis à frente dos alunos isolam-nos e...
Então, que fazer?
Não há receitas. Estas considerações não são «bocas» minhas baseiam-se em estudos sobre comunicação (Watzlawick, Birdwistell, Méharabian, Ed. Hall, Winkin, Goodwin... e Rosenthal, R. Scherer, K.R. Harrigan, j. A. (2008) The New Handbook of Methods in Nonverbal Research. Oxford: Oxford University Press.
O professor tem de ter consciência da importância dos seus comportamentos e dos dos alunos. Em função das diferentes actividades, terá de adaptar o espaço. Propondo várias actividades e para não provocar efeitos de indisciplina, poderá escolher a função mais importante que pretende reforçar na aula em questão.
Assim actividades com informação- quer seja dada por professor ou aluno- implica o olhar de todos -cf outros posts sobre a comunicação interpessoal e o olhar. O mesmo acontece com a leitura em voz alta. A função de animação implica deslocações. A função de avaliação pode exigir imobilidade no centro do dispositivo- se for em geral- ou o acompanhamento personalizado.
O observador terá de ter presente a relação entre as diferentes funções das actividades e o espaço ou os comportamentos proxémicos dos diferentes «actores». Não há comportamentos necessariamente bons ou maus em si, podem é , em determinados contextos, contribuir para a indisciplina (proximidade de alunos de culturas diferentes, por exemplo, pode gerar comportamento de indisciplina- países do Norte e Sul estabelecem diferentes distâncias, basta observar conversas em aeroportos para nos apercebermos.
E ler um texto de costas ou a circular na sala... falar virado para o quadro ou para a apresentação multimédia... são actividades que implicam o olhar! E , possivelmente, os computadores em determinados momentos têm de ser desligados.!
Blogue de professora de didáctica das línguas, de análise do discurso dos média, de comunicação, de mediaculturas... com «aulas virtureais»... e alguns desabafos.
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