sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Revista Intercompreensão nº 16 - Literacias académicas multimodais


INTERCOMPRENSÃO 16
   A revista Intercompreensão, «clássica», tem  a partir deste número 16, uma nova vida pautada por uma edição renovada - da responsabilidade da Unidade de Investigação do Instituto Politécnico de Santarém – e pela existência de uma “publicação irmã” – Intercompreensão - REDINTER. Às mudanças institucionais que decorrem da criação de uma Unidade centrada na Investigação, acresce o interesse em alargar o âmbito e o público da revista.
Este primeiro número, desta nova série, coordenado por Clara Ferrão Tavares e Luísa Álvares Pereira,  ao centrar-se numa problemática muito actual e muito relevante do ponto de vista das transformações por que está a passar o Ensino Superior em Portugal – as Literacias Académicas Multimodais -, procura, assim, contribuir para a tematização de um campo que não tem sido objecto de grande reflexão entre nós, apesar da sua tradição em outros países.
Na realidade, quer nos Estados Unidos – Composition Studies -, quer em Inglaterra - Academic Literacies -, esta temática tem já ampla produção de conhecimentos, procurando-se em alguns países europeus dialogar com estes dois campos, no sentido de potenciar o conhecimento e contribuir, assim, para uma reflexão mais rigorosa e mais produtiva do ponto de vista da Leitura e da Escrita no Ensino Superior.
  No caso de Portugal, e tendo em conta que, com Bolonha, se reforça a autonomia do estudante, que realiza mais trabalhos académicos, a reflexão em torno das Literacias Académicas Multimodais tem emergido sobretudo motivada pela dificuldade que os professores diagnosticam nos seus estudantes em dominar a leitura e escrita de géneros académicos a que estão expostos neste contexto. Com efeito, para além dos aspectos referenciais dos géneros, estes requerem a gestão e proficiência em técnicas socioculturais, discursivas e linguísticas que os estudantes nem sempre dominam. Construir uma tese, uma monografia, um relatório, um projecto implica caracterizar, num primeiro tempo, os géneros discursivos que enformam esses tipos de trabalhos. Por estas razões se compreende que tanto se tem revelado difícil para os estudantes a aculturação a géneros académicos como também para os professores a orientação de todo este processo. Assim, a tematização em torno das Literacias Académicas tem permitido, antes de mais - mas não só - questionar a forma como podem ser interpretadas as dificuldades dos alunos na leitura e na escrita, deslocando o foco da análise para a relação com os contextos nos quais os estudantes escrevem e, logo, para a forma como estes são capazes de entrar nos universos culturais que as diferentes disciplinas exigem.
Conceber os escritos no Ensino Superior como géneros discursivos pressupõe, portanto, uma focalização nos usos reais da língua em contexto e passa por uma reflexão sobre muitos eixos temáticos que se inscrevem no universo das Literacias. As literacias académicas multimodais podem, assim, ser entendidas como práticas de cultura a que estão associadas capacidades de proceder ao tratamento de diferentes textos, de diferentes linguagens em diferentes suportes, em diferentes espaços, em condições temporais diversificadas, em diferentes situações.
Partindo destes pressupostos e das exigências em matéria de literacia académica, a prática habitual de centrar a intervenção docente no domínio de conteúdos disciplinares específicos tem-se revelado insuficiente face a dificuldades de vária ordem – derivadas não só da componente linguística (ortográfica, lexical, morfológica, sintáctica…), mas, sobretudo, da competência referencial em articulação com a área de especialidade em que os estudantes se situam e das competências discursiva e pragmática (em relação com o contexto e com a cultura académica), entendidas numa dimensão plurisemiótica. Do que foi dito se constata a necessidade evidente de um ensino mais sistemático da especificidade linguística e discursiva dos géneros – como também o questionamento dos moldes em que este ensino pode ser feito e em que instâncias das instituições de Ensino Superior.
   No contexto Português, e em virtude do aumento de cursos de pós-graduação (Mestrados e Doutoramentos), esta temática tem sido contemplada em muitos Seminários e outros Cursos.
    Neste sentido, importa, por um lado, partilhar e divulgar os estudos e as práticas que têm sido mobilizados, no sentido de descrever as dificuldades dos estudantes e de identificar tanto os pontos críticos como a forma positiva de os analisar. Assim, serão bem recebidos artigos que contemplem uma problematização e/ou estudos empíricos sobre:
·        As diferenças entre as práticas de escrita dos alunos e as exigências da escrita académica;
·         A descrição de géneros discursivos mais comuns no Ensino Superior (teses, monografias, relatórios, projectos…);
·        A análise de determinadas práticas discursivas a que os alunos são expostos (portefólios, apresentações multimédia, reflexões…);
·        As características discursivas do discurso científico (polifonia, citação de vozes de autores, construção da sua voz no interior dos textos, reformulações, resumos, paráfrases, paráfrases de esquemas…);
·        Análise de produções dos alunos, sempre enquadrada pela contextualização;
·        Outros que se revelem interessantes do ponto de vista, quer da conceptualização do campo das Literacias Académicas Multimodais, quer da emergência de metodologias de ensino e de análise dos (géneros de) textos académicos.

Prazos- Entrega de propostas- 1 de Julho de 2011
Informação  sobre aceitação de artigos- 15 de Julho de 2011

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