quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Power Point... e comunicação interpessoal

No estágio pedagógico dos ensinos básico e secundário, a primeira coisa que um estagiário aprendia era a expor recorrendo ao quadro, sem virar as costas ao aluno. Depois, o estagiário passou a aprender que não se olha para a projecção quando se usa o retroprojector e que se aponta para a projecção no próprio aparelho, entre outros aspectos.

Seria normal que, numa apresentação multimédia, o professor(investigador, aluno) soubesse que, também neste caso, não pode deslocar-se perigosamente de esferográfica em riste em direcção à superfície de projecção, virando as costas ao público. Este - que sabe além do mais o preço dos materiais - fica distraidissimo, interrogando-se «será desta que sai risco!!!».

O estilo «Serafim Saudade» - personagem de Herman José em outros tempos- também não é melhor! De comando nas mãos, o orador desloca-se aterafadamente diante do público.

Tive, recentemente, ocasião de ver exemplos destes dois estilos em colóquios...

Aliás, movimentar-se na sala, mostrar dinamismo.... parecem ser representações frequentes do que o bom professor deve fazer, como também tenho lido.

Mais uma vez...  algumas leituras de estudos sobre a comunicação interpessoal justificam-se. E que dizem autores como Goodwin, Slama Cazacu, Argyle...?
Quem ouve precisa também de ver, porque parte da mensagem está no gesto que acompanha o enunciado linguístico. E quem fala tem necessidade de ver o olhar do público, as inclinações laterais da cabeça (que demonstram atenção), os sorrisos - ou não... para saber se se deve deslocar no espaço, procurar um sinónimo, ou mudar o tom de voz.
Não é por acaso que as igrejas, os tribunais as escolas tinham um espaço para o orador falar. O modelo panóptico da comunicação pode implicar reforço do poder, mas tem também uma justificação interaccional. Quando o orador expõe, dá instruções, argumenta... lê um texto em voz alta... tem necessidade de se colocar num espaço onde seja visto por todos. O dinamismo é colocado na voz, no olhar, nos gestos e não nas deslocações. As deslocações acompanham a função de animação ou de avaliação individual correspondendo a outros momentos da aula.


Se viajarmos no passado à procura de estudos sobre a maneira de expor e de argumentar, recorrendo às componentes verbais e não verbais da comunicação, podemos chegar a Roma. Para Quintiliano, até as pregas da túnica tinham uma função comunicativa.

As tecnologias mudam, mas os princípios comunicativos não mudam assim tanto!

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