Não me despedi do Professor e amigo, porque, há uns tempos, deixei de ler os seus artigos e a Covid impede-me de estar hoje com ele. Mas, vou tentar escrever um texto de homenagem pessoal, apesar dos riscos da memória me poder trair. As minhas desculpas por eventuais imprecisões! Tive a sorte de me encontrar com pessoas excecionais, Santana Castilho conta-se entre estas pessoas. Em 1986, tinha acabado de defender uma tese de « Doctorat de Troisième Cycle», na Universidade da Sorbonne Nouvelle e tinha já alguns anos de experiência na formação de professores (e um ano na ESE de Leiria) e entrei no gabinete do Professor Santana Castilho. Depois de conversa de algumas horas, creio, saí coordenadora da melhor equipa de formadores que iria encontrar na minha vida. Nesse ano, iria assistir ao maior congresso na área das tecnologias que alguma vez tinha sido organizado no ensino superior. Esse congresso iria também abrir-me a porta para as tecnologias, uma vez que os média já estavam na minha tese. Santana Castilho ousava como ninguém, sonhava educação e fazia. Ia buscar os que pensava serem os melhores nas áreas que achava serem as áreas de futuro (nem sempre fez as escolhas mais acertadas!). Depois do Congresso, equipou a escola com equipamento de reprodução de milhares de cassetes de aulas da telescola, dando resposta a uma necessidade do sistema a que nem a Universidade Aberta tinha tido capacidade de resolver. E fê-lo, lançando o primeiro programa de ensino a distância do ensino superior. Durante meses, o estúdio não parou, de dia e de noite. Três Cursos de Educação Especializada (equiparados a licenciaturas) foram lançados: Três áreas fundamentais: o ensino especial, o português língua não materna e a a a educação multimédia. Dotou o país dos primeiros especialistas nestas áreas que se encontram hoje em universidades, grande empresas, projetos de escolas diferentes, jornais... Escolheu os melhores professores e talvez os melhores alunos (acreditava) pensando em diplomas, mas também em reconhecimento de competências. (E, no entanto, escreveu, nos últimos tempos, alguns artigos aparentemente contraditórios). Graças a Santana Castilho (e às Embaixadas), organizei, em Santarém, os primeiros encontros de formadores em Didática das Línguas do Ensino Superior que ficaram na memória dos formadores, pela qualidade dos intervenientes e pela qualidade das condições dadas pela ESE. A revista Intercompreensão, primeira e única revista de Didática das Línguas nasceu graças a si. Começaram os primeiros projetos de colaboração com África. Estive com Santa Castilho no primeiro projeto de ensino a distância (com cassetes audio e manuais) de formadores de professores do PREBA, em Cabo Verde. Militância verdadeira! Não me esqueço do saco de lagostas na banheira do quarto do Professor Santana Castilho distribuídas aos 3 professores da equipa! E da sensação de dever cumprido! (Não pensava em pagamentos, como também não pensavam os médicos que lançaram o SNS!). Era preciso fazer, fazia-se! E com dedicação e entusiasmo!
Mas, o sistema é ingrato, muitas vezes para quem faz! Com entusiasmo, Santana Castilho foi dirigir o Instituto Politécnico de Setúbal acumulando com a ESE de Santarém e «perdeu» a ESE de Santarém e a ESE «perdeu-se». Teve um processo disciplinar. Uma das «peças» do processo dizia-me respeito diretamente: a aquisição de uma impressora vídeo que seria determinante para a metodologia de investigação no meu «dotorat nouveau régime», na Universidade da Sorbonne Nouvelle. Preço pouco significativo, mas aquisição sem concurso porque... só havia uma marca no mercado. Outra «peça» do processo foi um pente (25 tostões) utilizado ´num filme, produzido no âmbito do CESE de Educação Multimédia em que se via a Joaninha, de Almeida Garrett, à janela, a pentear-se... Alguns pormenores, para se compreender como é travada tanta vontade de fazer coisas com questões , por vezes, mesquinhas.
Santana Castilho mudou. Compreendi. Não fui ao lançamento do seu livro, prefaciado por Passos Coelho, e expliquei-lhe as razões. Calculo que tenha sido mais um mau momento. Depois de lhe pedirem um programa para a educação, o ministro da educação nomeado foi... Nuno Crato. Tirei eu a conclusão! Foi um Professor amargo que agradava a muitos docentes que o seguiam.
Eu conheci, como muitos dos seus alunos e colegas, um grande Professor que gostava de ser Professor! Obrigada Professor e Amigo Santana Castilho!
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