Há muitos, muitos anos, depois de um «Doctorat de 3e Cycle» em França, estava para ser contratada pelo então, creio, Departamento de Educação da Universidade de Aveiro. Estava tudo decidido, já estava a caminho do novo doutoramento que me viria a dar equivalência e ia ficar em Aveiro! Mas...já tinha estado em Paris quase três anos, longe da família, já tinha colocado a família sempre em segundo lugar.... e não aceitei. Foi talvez uma das decisões mais dolorosas da minha vida profissional (também não fiquei em Nancy!)
Entretanto houve um concurso e entrou a Helena (creio que, no mesmo, ou logo a seguir, entrou a Ana Isabel Andrade)! Alguns anos depois, «estreei-me» a arguir a minha primeira tese em Portugal (já o tinha feito em França) e ...não sei se era eu ou a Helena a mais nervosa! Fiquei em outras instituições, colaborei com muitas, mas os laços com Aveiro informais e formais mantiveram-se. Sou investigadora do CIDTFF. E, nas provas de Agregação, foi a primeira vez que argui um relatório!
Temos seguido uns caminhos paralelos, outros que se cruzam e este foi para mim um momento único nesse percurso: participar numas provas que, como foi reconhecido publicamente, são motivo de orgulho para a Universidade de Aveiro e para o Ensino Superior.
Foram provas públicas com assistência de todo o país. Não é costume provas públicas serem comentadas em blogues, mas também não havia blogues. Comecei a comentar algumas provas de doutoramento e de mestrado, as muito boas ou excecionais (quando tenho tempo) , aqui, nesta «Universidade» para que outros possam aprender ... É por esse motivo que se fala da inteligência coletiva quando se fala de blogues! Mas há um risco que vou correr: não consigo, em pouco tempo e em pouco espaço, mostrar o brilhantismo (cf. critérios em artigo sobre estas provas) da Helena nas Provas, mas mesmo assim, vou correr o risco! (Depois lerão os artigos de Helena Araújo e Sá !)
Sob a forma de blogue forçosamente rápida, aqui deixo algumas reflexões. Foram provas em Didática das Línguas-Culturas, disciplina que, de acordo com as definição de Galisson, declinada de modo semelhante por Isabel Alarcão, tem em conta a contextualização (o relatório não só contextualiza a Unidade Curricular na história da Didática, como no meio instituinte, meio instituído, no tempo e no espaço (categorias do modelo de Galisson), nomeadamente no Centro de Investigação, na Universidade, no Mestrado, nos projetos Internacionais Galatea e Galapro...), passa pela observação (as várias investigações próprias e dos estudantes (categorias agente, sujeito e grupo) tem em conta a observação-problematização e a problematização alimenta a ação e reciprocamente), implica a conceptualização (presente não só no rigor na documentação dos documentes entregues como na fundamentação da defesa- cf CV nomeadamente número de artigos publicados em revistas nacionais e internacionais (categorias objeto língua-cultura), a intervenção e a inovação (a intervenção nos projetos reflete-se no relançar das problemáticas em novos contextos, no formato de b-learning adotado, nos dispositivos da WEB 2.0 (categoria estratégias, meios) convocados nos projetos e analisados (não só as representações mas também as interações)...
Por deformação profissional, alimentada pelas leituras recentes em neurociências, centrei a observação da aula da Helena na intercompreensão em língua materna, ao mesmo tempo que acompanhava a problemática da intercompreensão em LE . A Helena pediu-me para partilhar com ela essa observação. Foi uma aula sobre «intercompreensão». Então como é que eu co-construí (tinha tido a versão escrita, muito bem escrita, como todos os outros documentos!) o sentido da aula? Para além de outras dimensões, a Helena distinguiu duas dimensões na intercompreensão: a relacional e a cognitivo-estratégica.
E na relacional, incluiu os procedimentos multimodais (Cf. apresentação, não referiu oralmente).
Então vamos ver estas dimensões: De pé, com os apontamentos na mão direita e a mão esquerda livre, leu muito bem o texto (confesso que no princípio fiquei surpreendida pelo facto da Helena seguir o que parece ser a tradição da leitura quando comunica tão bem e... até nem parece ser uma pessoa convencional! Tratava-se de uma aula, hoje! ), as sequências eram pontuadas pelo ritmo, pela voz, voz tão suave nas transições... A mão esquerda ficava livre para o gesto «mise en geste» que precedia a «mise en pensée», como quando procurava, ou parecia procurar, e levar o interlocutor a antecipar palavras como «configurações», palavra declinada na apresentação multimédia através da metáfora visual que se ia construindo, também ela, antes da verbalização de «configurações».Um exemplo, entre muitos...
Recorreu, assim, ao que alguns autores designavam há alguns anos como « comportamentos de convergência interativa» e que Cosnier designa como fenómenos d'«echoïsation» que têm um papel importante na empatia.
Mas que têm, também, um efeito cognitivo (ver dimensões da intercompreensão para a Helena). O gesto ajuda quem está a falar a encontrar a palavra certa (função de « mise en pensée »et de « mise en mots») e nós antecipamos o que vamos ouvir através do gesto. Fenómeno de «neurones miroirs»(Rizolatti).
Mas a Helena ainda refere que foi de propósito, metáforas icónicas antes da verbalização, sobreposição/complementaridade de informações no Power-Point, Power- Point multimodal, pausas na leitura, olhares... dimensão estratégica na intercompreensão.
Foi uma pena a aula não ter sido gravada! Que exemplo para investigar estas dimensões na comunicação pedagógica e para serem analisadas na formação de professores!
Como interrogações ou provocações, não só para a Helena, mas todos nós na área:
Haverá necessidade de outras designações para a disciplina como Didática do Plurilinguismo ou da Intercompreensão quando a Didática das Línguas-Culturas apresenta as dimensões anteriores? A designação Didática das Línguas não é uma designação transitória entre a DI, DFLE, Didática da Língua materna... e a Didática das Línguas -Culturas, onde cabem problemáticas de intercompreensão, plurilinguismo?
Não haverá necessidade, dado precisamente o contexto, de regressar a formas mais instrumentais da DL-C centradas na aula de Francês, Inglês ou Espanhol na linha do livro Didáctica da Língua Estrangeira (ASA)? (Paralelamente a estudos sobre intercompreensão que, com a crescente disciplinarização do currículo, vão ter dificuldade de subsistir).
Quando começam em Aveiro (ou em outro lado) os estudos sobre intercompreensão com recurso a instrumentos de eye tracking? Os estudos sobre representações ajudam a compreender mas não explicam os aspetos relacionais e cognitivos, por exemplo.
De forma muito rápida, aqui deixo estas notas, como estímulo para os meus leitores-professores-comunicadores! As minhas desculpas à Helena por ter reduzido as suas provas a estas linhas! Mas como ela própria referiu (o relatório) «deu-lhe energia para trilhar, acompanhada, alguns caminhos» abertos: Aqui estou com vontade de a continuar a acompanhar e... para terminar o post como o comecei: que poderá haver de melhor quando um professor não pode seguir um caminho ver como outro professor o seguiu tão bem, com tanta energia, rigor e militância, abrindo tantos caminhos a tantos professores e alunos em Aveiro, em Portugal e no estrangeiro.Parabéns Helena!
Entretanto houve um concurso e entrou a Helena (creio que, no mesmo, ou logo a seguir, entrou a Ana Isabel Andrade)! Alguns anos depois, «estreei-me» a arguir a minha primeira tese em Portugal (já o tinha feito em França) e ...não sei se era eu ou a Helena a mais nervosa! Fiquei em outras instituições, colaborei com muitas, mas os laços com Aveiro informais e formais mantiveram-se. Sou investigadora do CIDTFF. E, nas provas de Agregação, foi a primeira vez que argui um relatório!
Temos seguido uns caminhos paralelos, outros que se cruzam e este foi para mim um momento único nesse percurso: participar numas provas que, como foi reconhecido publicamente, são motivo de orgulho para a Universidade de Aveiro e para o Ensino Superior.
Foram provas públicas com assistência de todo o país. Não é costume provas públicas serem comentadas em blogues, mas também não havia blogues. Comecei a comentar algumas provas de doutoramento e de mestrado, as muito boas ou excecionais (quando tenho tempo) , aqui, nesta «Universidade» para que outros possam aprender ... É por esse motivo que se fala da inteligência coletiva quando se fala de blogues! Mas há um risco que vou correr: não consigo, em pouco tempo e em pouco espaço, mostrar o brilhantismo (cf. critérios em artigo sobre estas provas) da Helena nas Provas, mas mesmo assim, vou correr o risco! (Depois lerão os artigos de Helena Araújo e Sá !)
Sob a forma de blogue forçosamente rápida, aqui deixo algumas reflexões. Foram provas em Didática das Línguas-Culturas, disciplina que, de acordo com as definição de Galisson, declinada de modo semelhante por Isabel Alarcão, tem em conta a contextualização (o relatório não só contextualiza a Unidade Curricular na história da Didática, como no meio instituinte, meio instituído, no tempo e no espaço (categorias do modelo de Galisson), nomeadamente no Centro de Investigação, na Universidade, no Mestrado, nos projetos Internacionais Galatea e Galapro...), passa pela observação (as várias investigações próprias e dos estudantes (categorias agente, sujeito e grupo) tem em conta a observação-problematização e a problematização alimenta a ação e reciprocamente), implica a conceptualização (presente não só no rigor na documentação dos documentes entregues como na fundamentação da defesa- cf CV nomeadamente número de artigos publicados em revistas nacionais e internacionais (categorias objeto língua-cultura), a intervenção e a inovação (a intervenção nos projetos reflete-se no relançar das problemáticas em novos contextos, no formato de b-learning adotado, nos dispositivos da WEB 2.0 (categoria estratégias, meios) convocados nos projetos e analisados (não só as representações mas também as interações)...
Por deformação profissional, alimentada pelas leituras recentes em neurociências, centrei a observação da aula da Helena na intercompreensão em língua materna, ao mesmo tempo que acompanhava a problemática da intercompreensão em LE . A Helena pediu-me para partilhar com ela essa observação. Foi uma aula sobre «intercompreensão». Então como é que eu co-construí (tinha tido a versão escrita, muito bem escrita, como todos os outros documentos!) o sentido da aula? Para além de outras dimensões, a Helena distinguiu duas dimensões na intercompreensão: a relacional e a cognitivo-estratégica.
E na relacional, incluiu os procedimentos multimodais (Cf. apresentação, não referiu oralmente).
Então vamos ver estas dimensões: De pé, com os apontamentos na mão direita e a mão esquerda livre, leu muito bem o texto (confesso que no princípio fiquei surpreendida pelo facto da Helena seguir o que parece ser a tradição da leitura quando comunica tão bem e... até nem parece ser uma pessoa convencional! Tratava-se de uma aula, hoje! ), as sequências eram pontuadas pelo ritmo, pela voz, voz tão suave nas transições... A mão esquerda ficava livre para o gesto «mise en geste» que precedia a «mise en pensée», como quando procurava, ou parecia procurar, e levar o interlocutor a antecipar palavras como «configurações», palavra declinada na apresentação multimédia através da metáfora visual que se ia construindo, também ela, antes da verbalização de «configurações».Um exemplo, entre muitos...
Recorreu, assim, ao que alguns autores designavam há alguns anos como « comportamentos de convergência interativa» e que Cosnier designa como fenómenos d'«echoïsation» que têm um papel importante na empatia.
Mas que têm, também, um efeito cognitivo (ver dimensões da intercompreensão para a Helena). O gesto ajuda quem está a falar a encontrar a palavra certa (função de « mise en pensée »et de « mise en mots») e nós antecipamos o que vamos ouvir através do gesto. Fenómeno de «neurones miroirs»(Rizolatti).
Mas a Helena ainda refere que foi de propósito, metáforas icónicas antes da verbalização, sobreposição/complementaridade de informações no Power-Point, Power- Point multimodal, pausas na leitura, olhares... dimensão estratégica na intercompreensão.
Foi uma pena a aula não ter sido gravada! Que exemplo para investigar estas dimensões na comunicação pedagógica e para serem analisadas na formação de professores!
Como interrogações ou provocações, não só para a Helena, mas todos nós na área:
Haverá necessidade de outras designações para a disciplina como Didática do Plurilinguismo ou da Intercompreensão quando a Didática das Línguas-Culturas apresenta as dimensões anteriores? A designação Didática das Línguas não é uma designação transitória entre a DI, DFLE, Didática da Língua materna... e a Didática das Línguas -Culturas, onde cabem problemáticas de intercompreensão, plurilinguismo?
Não haverá necessidade, dado precisamente o contexto, de regressar a formas mais instrumentais da DL-C centradas na aula de Francês, Inglês ou Espanhol na linha do livro Didáctica da Língua Estrangeira (ASA)? (Paralelamente a estudos sobre intercompreensão que, com a crescente disciplinarização do currículo, vão ter dificuldade de subsistir).
Quando começam em Aveiro (ou em outro lado) os estudos sobre intercompreensão com recurso a instrumentos de eye tracking? Os estudos sobre representações ajudam a compreender mas não explicam os aspetos relacionais e cognitivos, por exemplo.
De forma muito rápida, aqui deixo estas notas, como estímulo para os meus leitores-professores-comunicadores! As minhas desculpas à Helena por ter reduzido as suas provas a estas linhas! Mas como ela própria referiu (o relatório) «deu-lhe energia para trilhar, acompanhada, alguns caminhos» abertos: Aqui estou com vontade de a continuar a acompanhar e... para terminar o post como o comecei: que poderá haver de melhor quando um professor não pode seguir um caminho ver como outro professor o seguiu tão bem, com tanta energia, rigor e militância, abrindo tantos caminhos a tantos professores e alunos em Aveiro, em Portugal e no estrangeiro.Parabéns Helena!
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