segunda-feira, 4 de abril de 2011

Zonas de proximidade entre a Escola e os Media


Em a Escola e a televisão : Olhares Cruzados, Plátano Editora

falamos de televisão, mas as  considerações que se seguem são adaptáveis  aos outros media.
Colocamos «em evidência «zonas de proximidade» entre dois espaços de aprendizagem que, muitas vezes, estão de costas voltadas: a escola e a televisão., ou os media em geral.  Ao adoptarmos este título, temos presente o conceito de «zona de desenvolvimento potencial» ou de «zona de desenvolvimento próximo»[1] desenvolvido por Vygostky. Este autor introduziu a distinção entre o que a criança consegue executar autonomamente – nível actual de desempenho – e o que ela não consegue realizar sozinha, mas que pode fazer desde que ajudada. Assim, a noção de zona de desenvolvimento próximo (ZDP) (1978) tem a ver com
A distância entre o nível real de desenvolvimento, tal como foi determinado por uma resolução independente do problema, e o nível de desenvolvimento potencial, tal como foi determinado pela resolução do problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com pares mais capazes de o resolverem. (26)

O conceito de Vygotsky põe, assim, em destaque o papel do outro como membro mais experiente, aquele que ajuda as crianças a atingir níveis de domínio e desempenho que, por si sós e sem ajuda, lhes seria mais difícil ou mesmo impossível  conseguir.  O funcionamento inteligente é, deste forma, mediado por ferramentas e sinais (a linguagem, os símbolos) que transformam as acções dos indivíduos. Vygotsky entende o  desenvolvimento humano como uma responsabilidade colectiva. Dentro deste quadro de referência, a aprendizagem ocorrerá, portanto, num contexto social.

Situando-nos na linha de pensamento reflectida na obra  Pensamento e linguagem de Vygotsky (1986), acreditamos que «aquilo que a criança pode fazer hoje em cooperação será amanhã capaz de o fazer sozinha» (7).

Construindo esta designação em palimpsesto sobre a designação de Vygostski, e tirando partido da evolução tecnológica, consideramos que o aluno pode ir mais longe no seu desenvolvimento graças à esola paralela que os media constituem. No entanto, o nosso objectivo não se circunscreve ao aluno. Pretendemos, também, que o professor desenvolva a sua zona de desenvolvimento próximo.
Estas utilizações da televisão permitem o desenvolvimento de competências de recepção, de tratamento cognitivo, mas, ao mesmo tempo, tornam possível uma aproximação integrada dos meios linguísticos, do léxico, da gramática. Permitem, além disso, uma comparação entre factos de cultura que aparecem integrados, contextualizados.
A televisão é uma base de dados e de documentos praticamente inesgotável e sempre actualizada. Certos programas destinados ao grande público podem contribuir para reforçar ou, ao contrário, para desmontar um certo número de estereótipos relativos às outras culturas. Seríamos mesmo tentados a afirmar que certos programas provocam transformações profundas a longo prazo e daríamos como exemplo as telenovelas brasileiras, que contribuíram para uma abertura, para a aceitação do outro, para a aceitação da diferença na sociedade portuguesa.

Como conclusão, gostaríamos de sublinhar que  os programas de televisão podem ser submetidos a uma dupla abordagem: sobre os conteúdos e sobre as formas de encenação desses conteúdos. Levar os alunos a procurar matrizes às quais obedecem os programas, a identificar os vários géneros televisivos, os esquemas formais, as formas culturais de estruturar os programas, mas também a interrogar-se sobre a sua maneira de ver televisão e a diversificar estratégias de ver televisão, são sem dúvida processos que eles poderão transferir para a compreensão do discurso da aula.
A televisão serve de suporte, o aluno aprende com ela, não só conteúdos, mas maneiras de ver televisão, desenvolve capacidades, desenvolve atitudes críticas, desenvolve valores. A imprensa, como sublinha F. Mariet, «não matou o saber, como temiam algumas pessoas quando ela surgiu, mas modificou as condições de aquisição e de transmissão. A televisão provoca sem nós querermos modificações análogas, de igual importância» (1989: 216). Como é que a escola poderá desconhecer estas modificações?»








[1] Esta tradução adapta-se melhor à nossa proposta. Ou adaptava, porque hoje utilizamos o termo «potencial».

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