Perguntaram-me por que não coloquei Victor Aguiar e Silva entre os bons professores. Efectivamente, tive a sorte de me sentar nos anfiteatros da Faculdade de Letras de Coimbra e ouvir as suas explicações de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa. A leitura de textos de Eça de Queirós... que prazer... mas nunca falei com ele. Tive a sorte (devida a muito estudo) de ter 14 nas duas disciplinas e... escapei! Por isso não o considero um bom professor, mas é certamente um dos melhores comunicadores que conheci. E aprendi muito com o seu estilo expositivo.
Aliás sempre aprendi muito com o estilo expositivo... que não está na moda. Mas não está na moda porque muito professor não é capaz de expor e, por isso, anima as aulas. E porque é caro!
Há uns anos, uma amiga contava-me que a sobrinha de 7 ou 8 anos queria ser professora: « e sabes porquê? porque é muito fácil: on sort des fiches».
Quando vejo muitos professores, penso nesta história... hoje «on sort des power point» ou ainda pede-se aos alunos que apresentem os conteúdos (que os professores deveriam conhecer melhor) aos colegas, sendo que estes ficam com esta «mediação» dos saberes que acabam por escrever noutros trabalhos. Reproduzem-se assim conteúdos adulterados, muitas vezes, em vários níveis e em estilo power point.
Bolonha retirou tempo de exposição do professor, aliás pressupunha novas formas de aprender. Mas o trabalho de grupo ocupa muitas vezes esse tempo reduzido. E como para se aprender em grupo é preciso tempo... Mas dir-me-ão tem de se ter em conta a carga total (e eu sei já que participei em reuniões internacionais pré- Bolonha!). Mas, em casa nem sempre é possível que os alunos se encontrem e então... cada aluno fica com uma tarefa («25 cm» de um artigo ou de um tema que cola em 3 ou 4 diapositivos que se juntam aos diapositivos dos colegas). O que é preciso é que os alunos façam (empregabilidade!?)E assim os assuntos estão tratados... em superfície!
Assim fica-se a «ganhar»... não são precisos tantos professores, alguns não precisam de aprofundar conteúdos... porque são os alunos que os vão aprofundar... não precisam de explicar... e «os estudantes são tão criativos!» e «estão muito motivados!».
Esquece-se o que se sabe sobre as aprendizagens, sobre a criatividade, sobre a memória...
É evidente que sempre houve maus e bons professores e um bom professor é quase sempre um bom comunicador e um bom animador.
Blogue de professora de didáctica das línguas, de análise do discurso dos média, de comunicação, de mediaculturas... com «aulas virtureais»... e alguns desabafos.
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