segunda-feira, 8 de abril de 2013

Multimodalidade e literacias multimodais


Na brochura sobre Implicações das TIC no ensino da língua, disponível on line, elaborada  no âmbito do PNEP, ME,  propomos algumas definições de literacia e sugerimos  atividades pedagógicas para o desenvolvimento de literacias multimodais.

« Tem-se considerado a alfabetização como acto de ensinar as primeiras letras. Distingue-se de literacia, que quer dizer «aceder ao conhecimento através da reconstrução da informação contida no texto, o que implica uma íntima interacção entre o leitor e o texto (sendo que) o leitor (se) tornou um construtor
de significado e a leitura (se) transformou na grande porta de acesso ao poder e ao conhecimento» (Sim-Sim, 2004: 17).
Substituamos nesta caracterização de literacia o termo «texto» pelo plural «textos» – com efeito, numa concepção alargada de «textos», podemos integrar hipertextos, textos em diferentes suportes, textos multimodais, o multimédia. A literacia pode,assim, ser definida como o tratamento cognitivo de todos
os «textos» do quotidiano. Esta acepção implica o tratamento – em simultâneo e em diferido – de vários suportes e, importa sublinhá-lo, de várias linguagens. De várias linguagens, efectivamente,já que a literacia é o tratamento cognitivo não apenas dos signos linguísticos, mas da imagem (imagem concreta, imagem abstracta, imagem simbólica). Este tratamento da informação multimodal exige ao leitor a capacidade de gerir a simultaneidade e a contracção da informação.Enquanto termo genérico, a literacia inclui (embora não selimite à) a literacia numérica, a literacia mediática, a literacia científica, a literacia emocional… interessando-nos, ainda, no âmbito deste módulo, referir a literacia digital. De facto, pode distinguir-se o conceito de literacia informática do de literacia digital. O primeiro, que data dos anos 80 do século XX, pode definir-se como a capacidade de utilizar um computador enquanto conjunto de habilidades técnicas e instrumentais.O segundo, que se começou a desenvolver nos anos 90, implicao domínio de um conjunto de competências com vista afavorecer nos utilizadores as potencialidades comunicativas das TIC; por exemplo, ser capaz de utilizar as TIC para a selecção de uma informação determinada, para a construção de um
determinado saber e para o desenvolvimento de um pensamentocrítico e criativo (Larose et al., in Desbiens et al., 2004).No documento da Comissão Europeia Implementation of Education and Training 2010. Work Programme, de Novembrode 2004, refere-se que a literacia digital implica o uso crítico dos media electrónicos, logo um nível elevado de mobilizaçãode operações cognitivas no trabalho, nos tempos livres e nacomunicação (p. 12). Se consultarmos a Introdução  de  «Implicações das TIC no Ensino da Língua», percebemos que se visa o desenvolvimento da literacia digital de professores e alunos, a integrar no âmbito
mais lato de literacia ou de literacias. Não propomos as TIC para o desenvolvimento de competências informáticas nemmesmo para a construção de materiais pedagógicos, mas para a exploração da informação disponível na rede e aproveitamentodas respectivas potencialidades comunicativas e pedagógicas.
Assim, podemos falar de literacias como capacidade de «leitura» de diferentes textos, em diferentes suportes, com vista à construção de conhecimento; dito de outro modo, como a «leitura» multimodal de textos multimodais. Leitura de textos,por obrigação e por prazer, leitura do Ser Humano, leitura do Mundo; implica, como referido, a apropriação do conhecimento e o desenvolvimento do pensamento crítico e de competênciascomunicativas e relacionais.
Se as literacias, compreendidas desta forma abrangente, podeme devem ser desenvolvidas em diferentes espaços, a Escola continua o lugar privilegiado para o seu desenvolvimento.Apesar da aparente facilidade com que acedemos à informação,a tarefa do professor é, hoje, muito mais complexa do que notempo em que devia alfabetizar todos os alunos. Com efeito,o tratamento da informação multimodal, apresentada de
forma simultânea e não só sequencial (como no livro ou na sala de aula), exige o tratamento da complexidade e implica flexibilidade do leitor.Assim, contrariamente a muitas representações de professores
e de encarregados de educação, para se utilizar bem ocomputador e, sobretudo, a Internet, impõe-se que o leitor sejaum bom leitor».p.29

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