Transformações, perenidades, inovações
ESEC – 30 anos de Ensino de línguas/Formação de professores de línguas
ESEC – 30 anos de Ensino de línguas/Formação de professores de línguas
Resumo ou tópicos organizados em
férias no Algarve. O texto será publicado em Atas.
Tempo, espaço e
comunicação multimodal em cursos de formação de professores
Objetivo: Identificar transformações, inovações,
perenidades e até retrocessos na aula de língua e na formação de professores
(Nestes tópicos só desenvolvo o plano da formação).
Contextualização
e problematização:
Tendo a ESE
do Algarve adotado a designação Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve importava
compreender o lugar da comunicação nas práticas de ontem e hoje e na formação
de professores de línguas.
Com Bolonha
os estudantes de todos os ciclos devem «ser capazes de comunicar as suas
conclusões, e os conhecimentos e raciocínios a elas subjacentes, quer a
especialistas, quer a não especialistas, de uma forma clara e sem ambiguidades».
Os
professores devem ainda ser capazes de comunicar com crianças.
Podemos
então formular a questão seguinte:
·
Nos planos de
estudos de cursos de professores e nas fichas curriculares
- · Quais as metodologias adotadas para desenvolver as competências referidas?
- · A videoformação aparece?
- · Aparecem simulações globais ou simulações de sequências?
- · Quais os instrumentos de observação das interações?
- · Como se vê como o professor comunica?
- · Quem ensina um professor a comunicar?
Ora, nos
planos de estudos de cursos de professores (disponíveis on line) de instituições do ensino superior, quase não se vêem
marcas desta competência declinada quer em termos de UC específica, quer na
definição de objectivos de UC, quer nos
conteúdos, quer nas bibliografias.
A ESEC é, de certo modo, uma exceção, formulando o seguinte objectivo:
Mestrado em
ensino de português e inglês no segundo
ciclo
«O
desenvolvimento da capacidade de exposição oral e escrita em Português e em
Inglês, inclusive dentro do registo académico». https://esec.ualg.pt/pt/curso/1483
Recuando no
Tempo…
Como dizia o
fundador da ESEC, Professor Cândido de Freitas, na conferência que precedeu
esta e traçou o início da ESEC, e a
minha experiência numa ESE o confirmou, as ESE foram dotadas com espaços e
recursos para a videoformação, para a observação de aulas, para a produção de
vídeos.
Que
aconteceu a estes espaços? E sobretudo que aconteceu às práticas de
comunicação que neles decorriam (porque até nem haveria
necessidade de espaço específico)?
Adotando o
formato narrativo (no fim expliquei as razões), nos anos 80 do século passado, mostrei imagens que documentam um ciclo de formação de uma
cadeira, como se dizia na época, que eu lecionava: Nessas imagens, vê-se uma futura professora que contava uma história,
seguidamente os estudantes viam registos vídeo de professores ou
«comunicadores profissionais», como José Hermano Saraiva, a contar uma
história, observavam, com base num
enquadramento teórico sobre a comunicação verbal e não verbal, vários registos
em vídeo e analisavam essas «amostras» da comunicação, no plano das interacções
verbais e não verbais. No final, a mesma estudante voltava a contar história e
via-se a evolução. O mesmo ciclo
decorria em relação a outros papéis que
os professores desempenham sempre (explicadores, animadores, avaliadores…).
E hoje?
Parece que a comunicação
desapareceu em grande parte da formação de futuros professores. Caso contrário, não
veríamos nas defesas de provas e nas apresentações os vários casos que reuni
num dispositivo caricatural:
•Os
alunos recorrem a templates ou
imagens de tipo ilustrativo ou metáforas
inadequadas
•Apresentação
de texto memorizado com ausência de gestos de mise en corps necessários à
mise en concept
e mise en mots
(dimensão neurológica da multimodalidade),
•Ausência de conetores verbais e gestuais
•Olhar centrado no computador ou ecrã;
•Projeção em modo de trabalho.
•Leem
texto;
•Uso indiferenciado
de caracteres,
pontuação…
• Apagam luzes
•E
os professores mandam apresentar em
power point
Muitos
estudantes não terão desenvolvido a competência definida já na alínea e) do
Decreto –Lei 74/2006.
O que não é
de estranhar porque não aprenderam a
comunicar.
No entanto
há várias maneiras de aprender a comunicar e a videoformação é uma delas. A vídeoformação não morreu, como documenta a bibliografia apresentada em outro
post, nomeadamente, nas referências apresentadas no âmbito da
Cátedra Unesco para a formação de Professores no século XXI.
Macron
aprendeu a comunicar para reagir a Trump. Rui Mergulhão, nos tribunais, procura
marcas de emoções nos arguidos, nas empregas, sucedem-se cursos de comunicação,
recorrendo até à PNL - Programação Neurolinguística (nos anos 80 frequentei
um).
E que dizem
as neurociências?
Que se vêem
no cérebro marcas idênticas de quem pronuncia e de quem recebe discursos em
formato narrativo (uma das razões para o formato narrativo adotado), que se
vêem no cérebro marcas dos gestos das
mãos… daí eu ter precisado de mãos livres para improvisar ( apesar da
preparação ) aula e não estar condicionada por gestos técnicos. Evidentemente
em formato blogue… simplifico e caricaturo estudos!
Os nossos
neurónios comunicam em espelho com os neurónios dos outros. Não são só as
posturas de convergência interativa, as inclinações laterais da cabeça, os
gestos e verbalizações de aprovação, os sorrisos… Os gestos antecipam a
verbalização, convocam a memória e provocam fenómenos de alinhamento neuronal,
cognitivo , relacional e empático. A comunicação é multimodal.
Mas, como poderemos nós professores e investigadores ver… sem recorrer a ressonâncias magnéticas (que aliás
me levantam problemas, nestas situações)?
- · Observar o que acontecia quando eu estava a contar esta «história» ou o que aconteceu, depois, quando alguns colegas estavam a contar, a explicar e a argumentar (alguns escondidos atrás de ramo de flores ou de ecrã de computador, outros de pé, com mãos e sem mãos no computador).
- · Utilizar alguns dispositivos de eye tracking que se estão a desactualizar em algumas instituições sem que sejam utilizados em educação?
- Para observar a comunicação que hoje é muito diferente em relação com o espaço, o tempo e as tecnologias.
E, por isso, propus a observação de uma
metáfora icónica do axioma da comunicação de Paul Watzlawick «não podemos não comunicar», no qual são visíveis
marcas que reenviam para o olhar, os gestos, as mão… As costas comunicam, as
pernas de Sharon Stone comunicam, os espaços reais comunicam, o tempo comunica,
as diferentes culturas religiosas, artísticas, literárias, científicas
comunicam. A tela revela as porosidades
entre os diferentes planos. E a nossa memória convoca, em palimpsesto,
«imagens», palavras que compõem os nossos discursos:
A «mestiçagem
de culturas» de que falava Michel Serres, em «Le tiers instruit», para
caracterizar o homem do futuro.
O tempo
passou e… esse futuro tornou-se
presente.
E, nesse
presente, entreguei simbolicamente à ESEC uma produção «mestiça» de Antígona,
metáfora icónica da definição do homem do futuro que a ESEC terá de formar, em consonância
com a missão do ensino superior.
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