Não sou certamente uma professora «formatada»... Nem os bons professores que tive a sorte de ter eram «formatados». Também não o eram os bons colegas que tive (e tenho) e os que formei.
Eram bons porque saiam da «forma». Foi por isso que ficaram na minha memória e me deram uma parte de si que integrei na minha identidade.
Possivelmente... não passariam em provas escritas nem teriam 14. Eu também não deveria ter a nota mínima para aceder à profissão.
Então!
Primeira prova escrita: resolver problemas. Bom há vário tipos de problemas, devo dizer que, grande parte deles, quer dos meus, quer dos que se colocaram a bons professores, nem sempre foi resolvida da forma pedagogicamente mais correta, também nem sempre foi da cientificamente mais correta, nem sempre da forma comunicativamente mais correta... Baseada nessa «observação» de bons professores(onde me incluo) vou dar alguns exemplos. O bom professor, em função das situações, «vai» ao seu repertório buscar as respostas que mais se adequam e, se não encontra nestes estratégias, inventa outras. Umas vezes ri-se, até de si próprio, outras vezes cala-se, outras conta histórias, outras distancia-se dos alunos, outras ainda acaricia um aluno (proximidade- distante, paradoxo de Lozanov). Umas vezes, segue um plano, outras vezes improvisa tudo. Umas vezes, dá a palavra aos alunos, outras vezes, fala durante todo o tempo da aula e os alunos estranham que o tempo tivesse chegado ao fim... Algumas vezes, passa de uns assuntos para outros aparentemente sem nenhuma lógica, mas os alunos ficam encantados. Outras vezes, dá uma aula tradicional, outras vezes joga a bola ao mesmo tempo que o aluno que recebe a bola diz o nome de uma cor em língua estrangeira ou... começa uma história que o aluno que recebe a bola continua, outras vezes lê um texto ao mesmo tempo que faz os alunos ouvir Mozart ou Haendel (em momentos diferentes... ele sabe porquê). Outras vezes ainda, o aluno desenha ou dança (sim ...em língua estrangeira ou materna, crianças e adultos), ao mesmo tempo que ouve música ou um texto. Outras pede aos alunos para fazerem exercícios de gramática do manual ou de fichas ou faz um ditado... Ou os alunos escrevem 5 ou 6 vezes a mesma palavra, na qual haviam dado erro no ditado, com ou sem caligrama ou desenho... «Manda» fazer traduções, redações, exercícios... Ensina a escrever, escreve ao mesmo tempo que os alunos... Ensina a ler e a ter prazer na leitura, debate, concorda, discorda, explica... Educa!
Umas vezes ralha com um aluno, outras vezes incentiva-o... Explica por que o faz... Mostra que está feliz, mas pode mostrar que está infeliz (porque o marido partiu para a guerra na Guiné, nesse dia (um dos dias mais difíceis da minha carreira! Passados anos, um adulto (que era uma criança de 10 anos) mostrou-me como essa aula foi importante para o seu crescimento!). Fica triste também com situações de alunos e alegra-se com os momentos em que as aprendizagens, as descobertas, as situações da vida dos alunos florescem à sua frente.
Haverá alguém que possa fazer um teste que revele estas competências dos professores?
Quando comecei a minha carreira de orientadora pedagógica havia uma ficha que procurava (de forma pouco objetivável - dirão alguns doentes da «fichite aguda») «observar o «ser», o «saber» e o «fazer» do professor. Talvez a melhor ficha que utilizei!
Grande parte das competências para resolver problemas vem do «ser» que se pode modificar, mas que não cabe numa prova escrita! Portanto...
E agora passemos à prova específica. É muito fácil fazer uma prova de Português, Francês, Inglês... em todas as línguas.
Para um professor do 1º Ciclo
(As frases a completar podem ser um bocadinho mais rebuscadas! Não estão a fazer uma prova do 4º ano! Mas o modelo, o «formato», a «forma» pode ser a mesma). Recorrendo, claro, ao Dicionário Terminológico!)
«4. Completa cada uma das frases seguintes com a forma dos verbos apresentados
entre parênteses, no tempo e no modo indicados.
Pretérito perfeito do indicativo
Os cientistas _________________________ (mergulhar) até grande profundidade
e _________________________ (estar) sempre a observar o fundo do mar».
Exemplo que também pode ser um bocadinho mais complexo para o Secundário:
«Com base na sua leitura de uma das peças de teatro a seguir indicadas, apresente os dois momentos,
quanto a si, mais importantes no desenrolar da ação dessa obra.
−− Almeida Garrett – Um Auto de Gil Vicente ou O Alfageme de Santarém;
−− Raul Brandão – O Gebo e a Sombra ou O Doido e a Morte;
−− José Cardoso Pires – O Render dos Heróis.
Redija um texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras».
E para Francês... não sei se será melhor um exemplo com a «chocroute» ou com os «macarrons»!
«2.3. De nombreuses découvertes ont été possibles dans le domaine de
l’astronomie _________ l’invention du télescope.
(A) pourtant
(B) à cause de
(C) grâce à
(D) malgré
2.4. Désormais, la choucroute ne sert plus uniquement à
manger, _________, en Alsace, une station d’épuration produit de
l’électricité à partir de son jus.
(A) car
(B) cependant
(C) même si
(D) tandis que».
Para a avaliação em «Didática» (nem sei mesmo se se justifica, desde que os professores dominem os conteúdos, compram umas fichas e passam fichas...).
Mas, como sou otimista e construtiva, proponho um item:
Planifique uma unidade didática para o pretérito perfeito. Planifique uma unidade a partir do soneto X...
Caros colegas que vão fazer estas provas! Pelo menos ... procurem que haja várias «formas»!
Já basta o que se está a passar nos Ensinos Básico, Secundário e Superior. Nem sempre são os muito bons que têm excelente. Às vezes, as fichas estão tão bem feitas que... os excelentes «caem» nos que, nem sempre, são assim tão bons professores! E depois os avaliadores pares...
Quando comecei a carreira fazia tudo por gosto. O mesmo acontecia aos meus colegas. Mestrados doutoramentos, projetos, investigações, publicações (sempre houve os que não o faziam - agora não teriam esse problema... já se compram!). Havia muitas avaliações integradas no percurso por pessoas reconhecidas! Com estes modelos... há a caça aos pontos! Mesmo que isso implique artigos bem duvidosos que se lêem nas redes «científicas»! «Mais uns pontos!»! Não gosto de formatações, desculpem, «avaliações» destas!
Eram bons porque saiam da «forma». Foi por isso que ficaram na minha memória e me deram uma parte de si que integrei na minha identidade.
Possivelmente... não passariam em provas escritas nem teriam 14. Eu também não deveria ter a nota mínima para aceder à profissão.
Então!
Primeira prova escrita: resolver problemas. Bom há vário tipos de problemas, devo dizer que, grande parte deles, quer dos meus, quer dos que se colocaram a bons professores, nem sempre foi resolvida da forma pedagogicamente mais correta, também nem sempre foi da cientificamente mais correta, nem sempre da forma comunicativamente mais correta... Baseada nessa «observação» de bons professores(onde me incluo) vou dar alguns exemplos. O bom professor, em função das situações, «vai» ao seu repertório buscar as respostas que mais se adequam e, se não encontra nestes estratégias, inventa outras. Umas vezes ri-se, até de si próprio, outras vezes cala-se, outras conta histórias, outras distancia-se dos alunos, outras ainda acaricia um aluno (proximidade- distante, paradoxo de Lozanov). Umas vezes, segue um plano, outras vezes improvisa tudo. Umas vezes, dá a palavra aos alunos, outras vezes, fala durante todo o tempo da aula e os alunos estranham que o tempo tivesse chegado ao fim... Algumas vezes, passa de uns assuntos para outros aparentemente sem nenhuma lógica, mas os alunos ficam encantados. Outras vezes, dá uma aula tradicional, outras vezes joga a bola ao mesmo tempo que o aluno que recebe a bola diz o nome de uma cor em língua estrangeira ou... começa uma história que o aluno que recebe a bola continua, outras vezes lê um texto ao mesmo tempo que faz os alunos ouvir Mozart ou Haendel (em momentos diferentes... ele sabe porquê). Outras vezes ainda, o aluno desenha ou dança (sim ...em língua estrangeira ou materna, crianças e adultos), ao mesmo tempo que ouve música ou um texto. Outras pede aos alunos para fazerem exercícios de gramática do manual ou de fichas ou faz um ditado... Ou os alunos escrevem 5 ou 6 vezes a mesma palavra, na qual haviam dado erro no ditado, com ou sem caligrama ou desenho... «Manda» fazer traduções, redações, exercícios... Ensina a escrever, escreve ao mesmo tempo que os alunos... Ensina a ler e a ter prazer na leitura, debate, concorda, discorda, explica... Educa!
Umas vezes ralha com um aluno, outras vezes incentiva-o... Explica por que o faz... Mostra que está feliz, mas pode mostrar que está infeliz (porque o marido partiu para a guerra na Guiné, nesse dia (um dos dias mais difíceis da minha carreira! Passados anos, um adulto (que era uma criança de 10 anos) mostrou-me como essa aula foi importante para o seu crescimento!). Fica triste também com situações de alunos e alegra-se com os momentos em que as aprendizagens, as descobertas, as situações da vida dos alunos florescem à sua frente.
Haverá alguém que possa fazer um teste que revele estas competências dos professores?
Quando comecei a minha carreira de orientadora pedagógica havia uma ficha que procurava (de forma pouco objetivável - dirão alguns doentes da «fichite aguda») «observar o «ser», o «saber» e o «fazer» do professor. Talvez a melhor ficha que utilizei!
Grande parte das competências para resolver problemas vem do «ser» que se pode modificar, mas que não cabe numa prova escrita! Portanto...
E agora passemos à prova específica. É muito fácil fazer uma prova de Português, Francês, Inglês... em todas as línguas.
Para um professor do 1º Ciclo
(As frases a completar podem ser um bocadinho mais rebuscadas! Não estão a fazer uma prova do 4º ano! Mas o modelo, o «formato», a «forma» pode ser a mesma). Recorrendo, claro, ao Dicionário Terminológico!)
«4. Completa cada uma das frases seguintes com a forma dos verbos apresentados
entre parênteses, no tempo e no modo indicados.
Pretérito perfeito do indicativo
Os cientistas _________________________ (mergulhar) até grande profundidade
e _________________________ (estar) sempre a observar o fundo do mar».
Exemplo que também pode ser um bocadinho mais complexo para o Secundário:
«Com base na sua leitura de uma das peças de teatro a seguir indicadas, apresente os dois momentos,
quanto a si, mais importantes no desenrolar da ação dessa obra.
−− Almeida Garrett – Um Auto de Gil Vicente ou O Alfageme de Santarém;
−− Raul Brandão – O Gebo e a Sombra ou O Doido e a Morte;
−− José Cardoso Pires – O Render dos Heróis.
Redija um texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras».
E para Francês... não sei se será melhor um exemplo com a «chocroute» ou com os «macarrons»!
«2.3. De nombreuses découvertes ont été possibles dans le domaine de
l’astronomie _________ l’invention du télescope.
(A) pourtant
(B) à cause de
(C) grâce à
(D) malgré
2.4. Désormais, la choucroute ne sert plus uniquement à
manger, _________, en Alsace, une station d’épuration produit de
l’électricité à partir de son jus.
(A) car
(B) cependant
(C) même si
(D) tandis que».
Para a avaliação em «Didática» (nem sei mesmo se se justifica, desde que os professores dominem os conteúdos, compram umas fichas e passam fichas...).
Mas, como sou otimista e construtiva, proponho um item:
Planifique uma unidade didática para o pretérito perfeito. Planifique uma unidade a partir do soneto X...
Caros colegas que vão fazer estas provas! Pelo menos ... procurem que haja várias «formas»!
Já basta o que se está a passar nos Ensinos Básico, Secundário e Superior. Nem sempre são os muito bons que têm excelente. Às vezes, as fichas estão tão bem feitas que... os excelentes «caem» nos que, nem sempre, são assim tão bons professores! E depois os avaliadores pares...
Quando comecei a carreira fazia tudo por gosto. O mesmo acontecia aos meus colegas. Mestrados doutoramentos, projetos, investigações, publicações (sempre houve os que não o faziam - agora não teriam esse problema... já se compram!). Havia muitas avaliações integradas no percurso por pessoas reconhecidas! Com estes modelos... há a caça aos pontos! Mesmo que isso implique artigos bem duvidosos que se lêem nas redes «científicas»! «Mais uns pontos!»! Não gosto de formatações, desculpem, «avaliações» destas!
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