A propósito de artigo de Daniel Bessa no jornal «Expresso»
de hoje.
Leio sempre os artigos de Daniel Bessa que muito aprecio, mas... escreveu sobre professores, na sequência de Relatório da OCDE. E eu sou Professora! Daniel Bessa também é Professor!
Daniel Bessa está assustado com a «Escola Grisalha». Refere que a classe de professores
está envelhecida (é verdade, não se podem forçar pessoas que já muito
trabalharam a ficar na escola se não quiserem e há professores novos não
colocados), mas daí a dizer-se que «o envelhecimento se torna dramático. Falta
motivação, falta energia. Falta criatividade. Falta inovação, tanto tecnológica
como de métodos pedagógicos». Desculpe Daniel Bessa, no artigo «Escolas
Grisalhas», mas este seu comentário é «dramático» e é um insulto para
a minha mãe que trabalhou até aos 70 anos e sempre foi inovadora,
motivada, criativa; para mim (que saí muito cedo «para dar lugar a novos» e lamento não ter tido tempo para «passar testemunho» de motivação, entusiamo e inovação; para toda a classe de professores «grisalhos» que se encontram a trabalhar nas escolas e
que tiveram verdadeira formação de professores. Que, possivelmente, só não são
«motivadores, criativos, inovadores», porque a sociedade os força a utilizar
manuais e a fazer fichas (até em formato eletrónico, a maior parte das vezes, do
mais obsoleto possível, do ponto de vista pedagógico) para «preparar para exames
do 12 º ano». O entusiasmo com que dei a «última aula», a energia, a
motivação, a inovação tanto tecnológica como pedagógica (a aula dada na
Universidade do Algarve foi sobre virturealidade), foi a mesma com que
utilizei o quadro de feltro ou o gravador de fita, na minha primeira aula do 1º ano do ciclo preparatório. Vejo a mesma atitude nos professores que foram meus
estagiários e que estão nas escolas. Estão, talvez, fartos das escolas, das
sucessivas mudanças (sem avaliação das mesmas), dos papéis que escrevem, das reuniões,
nomeadamente das reuniões de pais...
Estão fartos de não terem liberdade, como eu tinha, nos primeiros anos (depois de 1974), de não poderem ir ao sótão das escolas buscar um manual de Português usado (de Isabel Boléo), quando a escola tinham escolhido um manual horrível, de sair da minha disciplina para falar do mundo, de não terem liberdade de não cumprir o programa. Mas de levar crianças a «sair do ninho para aprender», como dizia um dos meus mestres, Michel Serres.
Estão fartos de não terem liberdade, como eu tinha, nos primeiros anos (depois de 1974), de não poderem ir ao sótão das escolas buscar um manual de Português usado (de Isabel Boléo), quando a escola tinham escolhido um manual horrível, de sair da minha disciplina para falar do mundo, de não terem liberdade de não cumprir o programa. Mas de levar crianças a «sair do ninho para aprender», como dizia um dos meus mestres, Michel Serres.
Com tanta
«flexibilidade», desculpem... mas os professores perderam
liberdade e, por isso, e por outras razões muitos estão cansados e indignados.
Não só os «grisalhos», interrogo-me sobre a sorte dos jovens professores que chegam às escolas e se deparam com a organização da escola, como o medo de alunos, de crianças que nunca conheceram regras, de pais que não conhecem regras, de conselhos de turma verdadeiros tribunais com «juízes» que não conhecem os assuntos... Professores preocupados com a consonância entre as suas correções de testes e as interpretações de pais e explicadores. Para todos só resta uma solução: fazer fichas e seguir critérios de correção das mesmas. A liberdade de professores está reduzida a isto! Caricaturo. Há escolas e professores que resistem, porque são «criativos, entusiastas, estão motivado e conhecem as inovações»!
Não vou abordar estas outras razões. Situo-me no plano pedagógico, porque é aí que se situa Daniel Bessa. E eu tenho pena desse seu «contributo» para a «desvalorização» de uma parte da classe dos professores.