Está a decorrer, de 3 a 30 de abril, na
Galeria Guilherme Filipe da Câmara Municipal de Arganil, a exposição «Labirintos e memórias» de Antígona.
Parece, á primeira vista que a atividade de pintora de Antígona não tem nada a ver com a temática deste blogue de Clara Ferrão, mas há uma relação entre as duas.
Antígona nasceu em Pombeiro da Beira, ao pintar cenários,
decorar poemas, representar peças de teatro, nas festas
organizadas pela sua professora Maria de Lourdes Ferrão (também mãe de Clara Ferrão).
Deliciou-se, no terceiro ano do liceu, nas aulas do Professor- Pintor
de Arganil, António Ventura.
Frequentou as aulas de Clara Ferrão e aprendeu conceitos de
comunicação, literacia multimodal, intercompreensão, leitura, empatia, neurociências,
mestiçagem entre mundos reais e virtuais … Estudou literatura e
pintura. Aluna de escola de viagens, adorou “encontrar
Picasso”em Antibes, com 19 anos. Acompanhou Clara Ferrão
em trabalho a Paris, a Copenhaga, ao Rio de Janeiro, a São
Petersburgo…, impondo-lhe a sua vontade de visitar museus.
Antígona frequentou alguns ateliês e “explicações” de pintura,
mas não gosta de horários… Aproveitou a Internet para reclamar
maior protagonismo e partilha.
Alegre, ousada, atrevida, conversadora impõe a sua vontade a
Clara Ferrão e Clara Ferrão oferece-lhe os conteúdos para as suas
pinturas.
E surge esta exposição depois de uma primeira, na Galeria do Café Santa Cruz em Coimbra, em julho de 2017.
Porquê «Labirintos e memórias»?
Para Flaubert, uma folha de papel constitui um labirinto. Na folha há caminhos que se abrem e outros que se vão fechando. Para Antígona, cada tela constitui um labirinto. Labirinto, não
num sentido místico ou filosófico, como local de opressão, mas
como uma construção como um ambiente de experimentação.
Labirinto que constitui um convite à desorientação, implicando o
recurso à memória ou memórias convocadas para encontrar
resoluções. Labirinto que apresenta desafios cognitivos, com falsas
pistas, com «veredas que bifurcam» (como diz Borges) com modos
diferentes de «ler» ou ver a vida, com possibilidade de escolhas de
formas e cores, com erros, com correções. Constitui um desafio à
imaginação, uma construção lúdica, uma viagem em que o
viajante sente o prazer de se perder e de encontrar, e de se
encontrar. Como em todas as histórias, nomeadamente, como no
mito que motivou a palavra labirinto, «as personagens» de
Antígona - pintora vencem obstáculos e conseguem ultrapassar o
que consideravam ser os seus limites. Os labirintos de Antígona
são felizes, como as cores das telas o revelam.
Antígona constrói metáforas de conceitos e propõe narrativas
ancoradas no passado, nas memórias, que deixam fios para iniciar
novas histórias. Memórias de viagens, de aulas, de telas, de livros,
de rostos, de emoções…
Antígona caracteriza-se pela capacidade de sonhar, como Ícaro, de
realizar o que aparentemente é impossível, de desafiar o
desconhecido, de resolver os emaranhados ou melhor os novelos
que se vão desfiando nas telas: há teias que se fazem e desfazem,
há espirais, há puzzles, peças que as mãos reconstroem a partir de
memórias dispersas, com persistência, com desobediência em
relação a princípios e regras que Clara Ferrão até pode conhecer.
Alguns momentos de encontros e reencontros com amigos.
Será que é Antígona ou Clara Ferrão com a mania de explicar até ao Sr. Presidente da Câmara de Arganil!