segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mega-agrupamentos, hospitais, serviços e comunicação não-verbal

Escolas grandes substituem escolas pequenas. Ecrãs de computador surgem nas aulas, nas mesas de cada aluno... Janta-se em frente à televisão. E o olhar? O olhar faz parte da estrutura da sequência interactiva. Muitas vezes não completamos uma frase sem antes termos obtido o olhar do nosso interlocutor. Começa-se a dizer: «A comunicação resulta de um processo.... » gesto ilustrativo de uma bola... e depois do olhar do interlocutor, vem a palavra «global ». O olhar integra o que Slama Cazacu designa como «sintaxe mista». Desempenha uma função reguladora da comunicação, mostra que quem nos olha nos está a ouvir, ou ainda a nossa vontade de intervir... Desempenha além disso uma função afectiva.

Com um Magalhães à frente, a criança deixa de nos ouvir, deixa de ouvir o professor, os colegas... e deixa de saber olhar e de interromper e de completar um enunciado do adulto. Nas escolas pequenas ... ainda se vai cruzando nos corredores e vai olhando... se os pais não o ensinaram desde pequenino a «não olhar para estranhos»... Também não brinca e não olha para os outros meninos, quando joga à bola, na rua, porque já não se brinca na rua.

À hora de jantar, há grande possibilidade, em muitas casas, de não se sentar à mesa, porque até come antes qualquer coisa ou ... com um tabuleiro à frente... a ver televisão.

Cresce sem ver os outros. Na faculdade tem à frente o computador, o iPod, o iPad , consulta o email, Twitta... vê distraidamente a apresentação projectada. Ignora o professor e os colegas...

Vai chegar ao mercado do trabalho e exigem-lhe competências sociais, competências comunicativas... Como vai fazer então para as adquirir?

Não adquire e isto explica talvez a maneira como se é atendido em serviços vários e até num Hospital, para falar de uma experiência recente e dolorosa.

A culpa não está nas tecnologias mas nos usos que estamos a fazer delas.

Se não podemos não comunicar (Watzawick) será que estamos a criar uma sociedade que comunica a vontade de não comunicar. Que sociedade será esta!

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